quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"O adaptativo é ser feliz e mais nada"

Cria de uma filiação de teóricos da dança que são simpatizantes das teorias evolucionistas de Darwin, não poderia de deixar de GOSTAR do novo post do zoólogo Eduardo Bessa com o título já postado acima. Vale a pena conferir, acessem lá:
E sinceramente: que bom que ser feliz favorece o nosso processo adaptativo na terra. Bessa só esqueceu de citar a dança como um dos seus exemplos. Talvez, ele nunca tenha experimentado o coquetel de neurotransmissores que liberamos ao dançar. Uma boa explicação, para quem é viciada, como eu, pela dança do ventre.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Fifi Abdou: Corpo Policêntrico





Nos intervalos da pesquisa do doutorado, prometi a mim mesma voltar a estudar minha grande inspiração na Dança do Ventre – Fifi Abdou. E assim, tento seguir a risca a promessa. Mas devo confessar: que sufoco!!! Primeiro porque fico hipnotizada pela sua dança e qualquer tentativa de fazer alguma leitura/análise me escapa. (Estou/fico totalmente rendida). Depois, estou proibida de grandes esforços físicos – recomendação médica (logo vocês entenderam o motivo ;-)), daí fico a ponto de infligir essa regra. Ai Jesus!

A minha proposta é começar analisar alguns dos seus vídeos e arriscar entender um pouco a forma como organiza os movimentos da dança. Para quem se interessa por um pouco da sua bibliografia, devo dizer que vou decepcionar, pois, aqui, não farei esse tipo de abordagem. Perdoem-me, mas basta colocar no nosso queridinho GOOGLE o nome Fifi Abdo ou Abdou, que imediatamente saltam aos nossos olhos diversas opções de busca.

A escolha...

Escolho Fifi por alguns bons motivos. Primeiro sua pessoalidade em cena, a forma como se apresenta irreverente (debochada às vezes) e com um domínio de quem conhece cada pedacinho que pisa. Estar/dançar no palco, preenchendo-o, é uma tarefa para poucas. Ela, o faz, como se o palco fosse a sua casa, extensão da sua vida cotidiana, com uma familiaridade e uma intimidade, que desloca o glaumor impressa nesse espaço sagrado.

Fifi sem saber, talvez, é mais contemporânea que muitos dançarinos da atualidade. Profana o palco, tirando-o da esfera do sagrado e o restituindo para a vida comum.

Se Giorgio Agamben – filósofo italiano badaladíssimo na atualidade conhecesse a atuação de Fifi em cena, concordaria sem dúvida, que a sua dança traduz de forma muito clara o sentido de profanação proposto em seu livro – Profanações (2007). Para este autor, “profanar significa abrir a possibilidade de uma forma especial de negligência, que ignora a separação, ou melhor, faz dela um uso particular” (AGAMBEN, 2007: 66). É nesse sentido, que a “nossa” Fifi é uma mestra. Neutraliza a “aura” sobrenatural que muitos artistas encarnam ao passar da coxia e humaniza-se fêmea, mulher. Jogando com os textos femininos particulariza cada gesto – o enxugar o suor, o passar a mão no cabelo, o ajeitar do traje, o caminhar pelos quadris, como quem caminha pelas ruas da sua cidade natal. Fazendo da sua dança um lembrete: eis me aqui! Pessoa, humana, mulher, artista, dançarina, muitas de mim, que se fazem e estão juntas no corpo que dança.

É justamente a encarnação da sua pessoalidade que faz da sua dança uma ação profanadora e eu diria mais, política, uma afirmação de gênero. Especificamente, na cena em que leva para o palco a shisha (em outro vídeo) e autoriza as mulheres a fazerem o mesmo. Retirando este hábito da esfera masculina.


Outro aspecto é a escolha econômica dos movimentos. Em sua cartografia corporal, Fifi nos ensina que o pouco é MUITO. Discordo de quem acha que ela possuiu um “dos vocabulários musicais mais limitados e repetitivos que uma dançarina profissional poderia ter: basicamente seus movimentos são oitos, redondos, shimmys, deslocamentos e o básico egípcio” (http://www.dancadoventrebrasil.com/2009/05/fifi-abdo.html). Sem ofensas, afinal podemos, sim, ter opiniões discordantes (e isso é muito saudável), acredito que Fifi utiliza-se da economia dos movimentos para nos apresentar um corpo que brinca com sobreposições de movimentos e combinações. Um corpo policêntrico e carregado de poliritimia.

Vamos ao vídeo acima...

Para quem é novata na dança, digamos que o de imediato salta aos olhos, ou melhor, aos ouvidos? A sensação de que os movimentos que se iniciam no quadril de Fifi, são nada mais nada menos, a partitura musical do alaúde. Em vez de notas musicais, o shimmy, ocupa-se dessa tarefa. Traduz-se em som, em música.

As repetições na parte inicial do vídeo, os oitos e redondos, sobrepostos de shimmy, fazem a leitura da melodia, de uma forma tão sincronizada, que pelo amor de Deus, a repetição se traduz em qualidade. Fifi nos ensina que a respiração de cada movimento torna a execução orgânica, sem esforço, tornando-o o quadril pura musicalidade.

Uma rápida consulta nas dançarinas da atualidade revela o sentido inverso. Os palcos do mundo abrigam uma hemorragia de coreografias, sendo cada uma, um exagero de movimentos. Mal se acaba um shimmy emenda-se num outro passo e num outro e num outro, etc., onde a preocupação está em apresentar um cardápio de combinações ditado pela moda e nem sempre na leitura musical, na organicidade da dança. O preocupante é que esse excesso de oferta, não resultou na transformação de quantidade em qualidade.

Revisitando Fifi, penso que se torna urgente repensar o que vem sendo construindo por esse sistema de excessos. Onde a organicidade/simplicidade escoa-se no consumo exagerado de passos de dança (combinações, re-leituras, sobreposições), sem que estes tenham tempo para torna-se corpo, maturar-se.

Avançando mais um pouco, penso que só uma dança que integra os movimentos de forma madura, entendendo maturidade como experimentação, tempo necessário para o corpo experimentar, apropriar-se do movimento e fazer-se dança; torna-se capaz de comunicar-se de forma policêntrica.

Repare mais um pouquinho no vídeo... na passagem 0:58 em diante.

Retirado o enquadramento do quadril e fica claro a forma como os movimentos se desenham não mais sob um único comando. Fifi em sua dança nos apresenta um corpo policêntrico, que se comunica através de várias partes, ou seja, com o comando de vários centros. Numa dança dialógica, que por horas começa com o quadril, que chega aos pés – enraizado na terra, retornando ao quadril e se estende ao tronco, braços, cabelos e , e...como uma dança que se desenha com linhas sinuosas de energia. Observe que, nesse tipo de cartografia, não existem hierarquias. Ainda que sua dança tenha a predominância do quadril como ignição dos movimentos, estes não encerram neste ponto. O quadril não se torna o grifo da dança.

Eu, juro que tento fixar meus olhos em algum centro localizado, faço como exercício mesmo. Fixo no quadril e começo a ditar os nomes dos passos, como uma sabatina professoral. Às vezes até fico por muito tempo, até porque o enquadramento deste vídeo foi feito privilegiando o quadril. Mas não adianta! Fifi me conduz aos seus braços livres e desarmardos que me contam histórias da sua adolescência. Outras vezes me leva aos seus cabelos volumosos negligenciados no seu penteado que me levam até as suas mãos. Revelando que sua dança pode ter, sim, mais de um centro motor – movimentos iniciados em duas partes do corpo ou mais, em um diálogo que agrega, integra e não fragmenta. Tipo de organização que caracteriza a dança egípcia, um desenho como um caminho sem fim, com fluxos que continuam e descontinuam, sem revelar seus pontos de liga ou quebra.

Por fim, nesse vídeo Fifi me ensina que para dançar organicamente é preciso autonomia para aventurar-se na natureza humana. Brincar com o interno... com o que você é, nada mais. Escapar da ditadura do outro, da necessidade cega que temos de pinçar movimentos que vêm de fora (do outro e continuam no outro), como verdadeiras pérolas, ignorando os seus próprios, que surgem, nascem das articulações, do seu jeito de experimentar e fazer-se corpo.

Fifi repropõe outro sentido para a autonomia... Ensina-me que autonomia nada mais é do que sentir-se confortável com... dentro... E que não importa a direção que você trilhe, o estilo que construa, o importante é estar confortável no que faz e acredita.

Referência do livro de Giorgio Agamben.

AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Mercado Municipal em São Paulo









Esse final de semana em Salvador, enlouqueci de vontade de dar uma passadinha no Mercado Municipal de São Paulo. Para que não conhece, sei não... uma ofensa! Nem só de 25 de março, Museu da Língua Portuguesa, MASP e sua feirinha aos domingos, Bairro Liberdade, José Paulino, Av. Paulista, Praça Benedito Calixto, Dança do Ventre, etc. vive-se em São Paulo. Antes como turista/consumidora de works de Dança não rejeitava uma visitinha no mercadão, hoje como moradora ocasional/doutoranda, esse é sim um programinha regular... Minha última passadinha foi em dezembro com Pedro. Passeamos bastante pelos corredores, comemos frutas, comprei o bacalhau para a noite de Natal, me lambuzei com a salada de frutas vermelhas (porque a tradicional é vedada, pela alergia que tenho a abacaxi), sem esquecer o leite condensado, é claro... para no final morrer na dúvida de sempre: pastel de bacalhau ou sanduiche de mortadela? E toda vez, não me contento com minha escolha... fico desejando a outra... ou seja, comi o pastel olhando para o sanduiche do vizinho. Para quem tem estômago.... é preferível comer os dois!!!! Sem esquecer o chop preto. Desejos, desejos, desejos...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

TEORIA CORPOMÍDIA

TEORIA CORPOMÍDIA

Diversas formas existem de entender/pensar corpo.Pode-se transitar por diversas filiações teóricas, aqui, escolho compartilhar com vocês um pouco da Teoria Corpomídia (escrito junto) desenvolvida por Christine Greiner e Helena Katz (2005) enquanto uma das possibilidades possíveis. Devo dizer que desde 2006, quando tive acesso a essa abordagem teórica, muitos dos meus entendimentos habituais de/sobre corpo foram desmontados e fiz a opção adotá-la nas minhas pesquisas de Dança.

Vamos lá...

O ponto de partida...

Batizada como corpomídia pelas professoras doutoras da PUC/SP – Christine Greiner e Helena katz, essa “abordagem teórica é tributária da semiótica peirciana nos usos do conceito de fluxo permanente (semiose), das teorias evolucionistas neodarwinianas (entre as quais se destacam o meme de Richard Dawkins e a concepção de mente de Daniel Dennet) e da abordagem filosófica do papel das metáforas na construção da cognição proposta por George Lakoff e Mark Johnson”. (KATZ, apud MACHADO, 2007, p. 34)

Idéias Básicas...

Com a teoria corpomídia pode-se pensar o corpo a partir da sua característica processual, enquanto mídia
[1] de si mesmo, como um sistema vivo e em trânsito contínuo de trocas de informações com o ambiente.

Ou seja... Corpo e ambiente como co-dependentes, atuando juntos, sem separação. Ou seja, corpo que atua e se faz no ambiente, ambiente que é também corpo, na medida em que atua também no corpo. Onde o modo de atuar tem que ser sublinhado em fluxo contínuo de informação.

Aqui, um pouco da descrição da própria Christine Greiner (2005, p. 131):

“Algumas informações do mundo são selecionadas para se organizar na forma de corpo – processo condicionado pelo entendimento de que corpo não é um recipiente, mas sim aquilo que se apronta nesse processo co-evolutivo de trocas com o ambiente. E como o fluxo não estanca, o corpo vive em estado do sempre-presente, o que impede a noção de recipiente”.

Com essa moldura de corpo e ambiente em fluxo de informação, é possível prosseguir no desmonte da noção do corpo como um recipiente. E repensar o corpo não enquanto um meio por onde a informação simplesmente passa e sim, como o resultado desses cruzamentos.

É nesse sentido que se entende o corpo como mídia de si mesmo, como uma coleção de informações transitórias e mutantes em fluxo contínuo. Pois, a cada informação que chega no corpo reposiciona-o por inteiro.

Assim, quando se caminha com a teoria corpomídia, não se aceita mais entendimentos de que o corpo é um produto pré-dado, passivo e acabado, ou seja, a idéia do “corpo-gabriela”, cantado como: “eu nasci assim, cresci assim, vou ser sempre assim...Gabriela”. O que favorece a revisão dos tempos verbais tão viciosamente usados nos nossos discursos diários. Principalmente quando nos referimos ao outro do seguinte modo: “fulaninha é assim”, para “fulaninha está assim”, justamente porque o corpo que É PESSOA (e não uma coisa que as vezes sente dor) ESTÁ SENDO uma coleção de informações transformadas a todo instante.

É essa idéia de não recipiente e fluxo Inestancável que instabiliza o verbo ser e, repropõe entender o corpo como uma coleção de informações em processo. Pois o corpo NÃO É e sim ESTÁ SENDO.

De acordo com Helena Katz na palestra – Corpo e Cidade no II Encontro de História e Comunicação, “o corpo é corpomídia da coleção de informações o tempo inteiro. É revelador de si mesmo, resultado dos fluxos de trocas dos ambientes que transita”. Logo, o tempo todo, o corpo comunica a sua coleção de informação voluntariamente ou involuntariamente.

Implicações...

Aqui, proponho pensar que essa co-dependência entre corpo e ambiente implica em uma mutualidade, da qual se torna impossível escapar. Que de pronto, nos responsabiliza pelos tipos de ambientes que escolhemos para transitar e trocar. Pois, somos nada mais nada menos, resultados das nossas escolhas. Além do mais, não dá para imaginar que a gente pode levar o “corpicho” para passear e ele não ser contaminado e não contaminar o ambiente que se encontra. Quer queira ou quer não, o corpo não recusa informação. Seja o meu corpo, seja o corpo do outro.

Assim... seja nos atos de fala, seja nas ações de dança, etc. o nosso corpo comunica e troca idéias/pensamentos/visões de mundo, que nos fazem PESSOAS e constituem o coletivo que vivemos.

Finalizo essa forma de apresentar a Teoria Corpomídia, com uma colocação da Profa. Doutora Lenira Rengel/Escola de Dança da UFBA:

“[...] o corpo não é um lugar onde os eventos acontecem e vão embora. Os acontecimentos estão no/são o próprio corpo, ocorrem com pensamentos veias, dores, pulsações...Somos corpo e não pessoas que possuem um corpo ou habitam um corpo”. (RENGEL, 2007, p.27)

Referências Bibliográficas:
GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005.
KATZ, Helena. Corpo e movimento II. In: GREINER, Chistine; AMORIN, Claudia (orgs). Leituras do Corpo. São Paulo: Annablume, 2003, p. 78-88.
______. Um, Dois, Três: a dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: FID Editorial, 2005.
MACHADO, Adriana Bittencourt. O papel das imagens nos processos de comunicação: ações do corpo, ações no corpo. 2007. 117 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
MIGNAC, Márcia Virgínia dos Reis. A SUBVERSÃO DA SUJEIÇÃO: A AÇÃO POLÍTICA DA DANÇA DO VENTRE EM ADOLESCENTES SUJEITADAS E EM INSTITUIÇÕES. 2008. 125 f. Dissertação (Mestrado em Dança). Programa de Pós-Graduação em Dança. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
RENGEL, Lenira Peral. Corponectividade: comunicação por procedimento metafórico nas mídias e na educação. 2007. 161f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

OBS: Essa escrita sobre a Teoria Corpomídia foi pautada nas aulas da Profa. Doutora Helena Katz, no 2º semestre do Doutorado em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

SUGESTÃO PARA QUEM SE INTERESSAR MAIS SOBRE A TEORIA CORPOMÍDIA:
0 SITE DE HELENA KATZ: http://www.helenakatz.pro.br/

[1] A idéia de mídia aqui proposta refere-se ao modo do corpo existir. O corpo como mídia de si mesmo, sempre na condição de “sendo”, por onde as informações se tornam corpo e não atravessam o corpo. De acordo com Katz, não se trata do conceito de mídia como veículo por onde algo passa para ser exteriorizado – como, por exemplo, a TV, um aparelho por onde entra um sinal que carrega uma informação, que é lá processada e emitida, deixando o aparelho tal qual estava antes dessa operação. Pois, o corpo não é um veículo processador de informações O corpo comunica a si mesmo e não algo que o atravessa sem modificá-lo (KATZ, 2004).

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Esperanças que se vão...


Com a tragédia no Haiti uma pergunta ressurge: por quê???? Sem respostas, a sensação de que parte da esperança se vai com a morte de Zilda Arns me atormenta...estende-se.


Sem muitas escolhas, aqui, me resta uma frase como uma forma de pensar nos dias que virão...

A morte é uma piada. A vida é uma tragédia. Mas, dentro de nós, mesmo no maior desespero, há uma força que clama por coisas melhores”.

Obs: foto retirada do Blog Rainhas do Lar.
Acessem: http://www.rainhasdolar.com/ - site maravilhoso!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Há de se expandir, brotar em mim...



MEU CORPO ESTENDE-SE... E ME ENSINA QUE É CHEGADA A HORA DE APROPRIAR-SE DE MIM MESMO... PARA QUE O OUTRO EXISTA EM MIM.
AQUIETO-ME PARA NÃO ATRAVESSAR-ME, ATRAVESSAR-TE...
ESPERAR-TE CORPO EM MIM, PARA QUE MAIS UMA VEZ NÃO CORRA O RISCO DE DESAPERCEBER A VIDA...
Márcia Mignac

QUEM É O MESTRE?



Que maravilha de vídeo, hem? Nessa minha estrada de aprendiz, tive muitos mestres... alguns do espaço educacional mesmo, outros nem se quer sabiam que tinham esse propósito de ensinar, mas ensinavam com a singeleza das ações. Assim como esse bebê, que nos ensina não para transmitir o já sabido, mas para liberar de certas "verdades" externas a nós, que funcionam como certas ditaduras do SABER... para então buscarmos o que está em nós, no nosso corpo. Pois, ensinar algo é voltar-se para dentro (que não está separado do que está fora), para nossas experiências que são corpo... e muitas vezes são atravessadas por uma necessidade de desconexão...seja pelo super estímulo do sentido da visão, do voltar-se para o outro, para as coisas, para, para, para...seja pelo simples fato, de que nos tornamos estranhos a nossa natureza biológica, ao orgânico em nós. Afinal, quantos
de nós caimos na armadilha de esquecermos de onde viemos? SOMOS CORPO!!! Mas, excessivamente esquecemos dele, vivemos para fora de nós, para o outro... Adultos orfãos da sabedoria contida em seu corpo...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Impressões Capturadas...

Se um espectador me diz: "o filme que vi não prestava", eu respondo: a culpa é sua, pois o que você fez para tornar o diálogo bom?
Jean-Luc-Godard

Que maravilha, hem? Podemos trocar a palavrinha filme por tantas outras. A minha inicial, não tem como escapar... Que tal DANÇA?
Toda vez caímos no lugar da mediocridade, apenas criticando o que não cabe no nosso mundinho bellydance, recorremos no erro de achar que não fazemos momentaneamente parte dele. Ou seja, que não somos co-responsáveis. A questão não se encontra na crítica e sim, na crítica que só gera ruído e não contribuí para o crescimento do campo da dança. Contudo, também o outro posicionamento - o da não crítica, favorece a não permeabilidade, ao engessamento de opiniões e a permanência de gêneros, que consequentemente diminui a diversidade.
Aqui, fico me perguntando sobre minhas contribuições... O que tenho feito? O que temos feito?

CARTA PARA MINHAS ALUNAS...

04/01/2010
OI MINHAS QUERIDAS ALUNAS E MEU QUERIDO ALUNO RICK...

OBS: Comecei essa carta várias vezes em 2009 e era muito difícil continuar tão grande a saudade. Mas hoje foi o limite e disse a mim mesmo: vai como tem que ser!

Então segue...


São tantas coisas para dizer, que nem sei por onde começar. O melhor mesmo seria estar com cada uma de vocês, olhando nos olhos, trocando afeto e falando de forma atropelada, divertida e honesta como sempre fiz. Mas enquanto isso não acontece, pensei em escrever essa mensagem como uma forma de chegar “chegando” até podermos estar juntas outra vez em uma aula, em outro encontro com as Jasminas, em...

Ahhh meninas... são tantas imprevisibilidades que optei em tentar viver cada como uma possibilidade e driblar as exigências de uma virginiana sempre tão metódica e exigente. Mas para lidar com minha vida tão cigana – São Paulo, Paulo Afonso e Salvador, tenho tido muitos desafios e o mais difícil: aprender a negociar com o que chega (que nem sempre é como desejado) e exercitar a paciência para não se estressar além da conta. Justamente para aprender a fazer o exercício de desapego e se abrir para os presentes que o novo pode trazer e surpreender.

Com isso, não posso dizer que está sendo tranqüilo. NÃO! Só Deus sabe o quanto tenho aprendido a negociar com a vida e a lidar com a ausência da minha vocação – o ensino da dança do ventre. Mas ao mesmo tempo tenho tido tantos ganhos com o Doutorado, que só confirmam que fiz a escolha certa. Pois, estou sendo orientada por Helena Katz - uma das maiores pesquisadoras de dança do Brasil, o que significa dizer que estou aprendendo MUITO e tendo a oportunidade de ter acesso a conteúdos de dança de primeira linha.

Enfim...

Posso estar longe da sala de aula, mas sinto que tenho amadurecido muito na forma como tenho construído o meu pensamento sobre a dança e reafirmado minha vocação pessoal.

Nesse período em São Paulo fiz um curso com Gilberto Safra (Psicanalista) que abordou o tema sobre o Adolescer na Contemporaneidade. Ele falou um pouco sobre a vocação. Ou seja, o chamado vocativo, entendido muitas vezes como uma escolha profissional que começa a se desenhar no período da adolescência. Mas diferentemente do que se é compartilhado no senso comum, Safra propõe pensarmos vocação não como uma profissão, e sim como um chamado... Um chamado que dá sentido a vida, preenchendo-a até o dia da nossa morte.

Aqui, entendo também vocação como a capacidade da minha, sua, nossa vida ser SIGNIFICATIVA para o outro, aquilo que chamamos de FAZER DIFERENÇA, e que te fato coopera para a construção da existência humana.

E fiquei pensado nisso... Agradeci muito a Deus, porque pude atender a esse chamado e chegar onde me encontro. Afinal, quantos de nós podemos realizar nossa vocação? Agregar vocação a escolha profissional? Quantos de nós de fato contribuímos com o outro?

Por isso meninas, aproveito essa cartinha para pedir que vocês acreditem na vocação pessoal e tenham coragem para realizá-la. Uma vez, que sem a sua realização, a possibilidade de criamos feridas na nossa alma aumenta. E como aumenta... ACREDITEM, A VOCAÇÃO É A DIGITAL DA ALMA... Para que fomos criados e chamados no mundo.

Nesse sentido, fico aqui pensando em muitas de vocês... que podem ser arquitetas, mas fazem caixas maravilhosas... outras da área de administração, mas que enfeitam o mundo com mandalas, outras fazem arranjo de Ikebana, e outras e outras... agregam a vocação a profissão de fato, como professoras, psicólogas, dançarinas, médicas... o importante é a coragem para ser o que se pode ser.


Assim... Posso estar fora do cenário da Dança do Ventre em Salvador, mas estou caminhando em outras trilhas que me levam a formação necessária para a carreira do Magistério Superior. Entendida aqui, como um dos caminhos profissionais para minha vocação. Pois, ensinar na Universidade, nada mais é que a garantia de viver dignamente (falando em termos de salário) da minha vocação – a DANÇA. Que não excluí a Dança do Ventre é claro, mas abre brechas para dar continuidade e sustentação a sua permanência em minha e nas nossas vidas. Além, do que, aproveito para fazer outras conexões ampliando a leitura que tinha sobre a dança, tratando-a também pelo viés político. Sempre que puderem, visitem o meu blog (http://corpossibilidades.blogspot.com), pois lá tem um monte de coisa interessante sobre essas outras leituras.

Desejo para todas vocês MUITA CORAGEM e AMOR no ano de 2010. Coragem para deixar-se ser capturada pela real vocação (basta fechar os olhos se conectar com aquilo que lhe move de fato) e amor para fazer desse chamado uma ação compartilhada para o outro.

Sinto muita falta de cada uma, acreditem! Quero que me perdoem as vezes que não retornei uma ligação, um e-mail ou das várias vezes que não consegui mandar uma mensagem como essa. Pois, saibam o quanto é difícil manter outro tipo de vinculação com vocês SEM A SALA DE AULA. Dói, como dói... Por isso precisei silenciar-me e ficar quietinha no meu canto. Que, aliás, são vários cantos: Salvador, Paulo Afonso e São Paulo.

Tenho tido notícias sobre as andanças de vocês... das continuidades com a Dança e fico muito feliz. FELIZ MESMO, POR NÃO DESISTIREM. Prometo que em 2010 estarei mais perto que antes e se Deus ajudar, como tem ajudado, é bem provável que retorne a Salvador este ano.

Em março retorno para Sampa para concluir os créditos do Doutorado e em Junho volto para ficar por um longo período. Logo, logo vocês terão boas novas para nossas vidas. Orem por mim e me sustentem no AMOR. Amor que nos une além da Dança. Amor que sustenta as memórias do coração!

TUDO DO MELHOR no ano que chega!!!
FIQUEM COM DEUS,
SAUDADES,
Um beijinho lotado de carinho.

Márcia Mignac