terça-feira, 31 de agosto de 2010

PAUSA TOTAL!!!!!


Queridos (as),
Em breve o milagre da vida chegará para nós. E assim, eu e Pedro, nos tornaremos uma família. De modo que, nesses dias que antecedem o parto, devo confessar que já nem tenho concentração para escrever, ler ou fazer qualquer outra coisa que não seja sobre o assunto- família, bebês e nascimento. Acho que vocês devem ter percebido, pela falta de regularidade das postagens e uma longa ausência.
O que me faz concordar PLENAMENTE, com Darwin, quando se refere que no período da gestação o corpo economiza energia e torna-se mais lento, sem concentração e até "desmemoriado" (como falava minha avó). Justamente para deslocar energia para o crescimento do bebê.
Enfim...
Contudo agora essa ausência deve se prolongar. Pois com o nascimento de Maria Elisa, será que vou ter tempo de chegar até aqui? Acredito que nas primeiras semanas, não. Então... beijinhos para todos (as), ficarei com muitas saudades.
MANDO NOTÍCIAS!!!!!
FIQUEM COM DEUS.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

APRENDENDO COM A FALTA DE CONTROLE...


A gestação me ensina a conviver com os distintos ritmos da natureza. O tempo é outro. Estendido de outro modo, pode-se pensar na lentidão como um um jeito de apresentar-se. O que de imediato pede um ajustamento, justamente para não passar batido o seu legado mais precioso: a imposição de um ritmo próprio.

Afinal, ainda que se saiba que é chegada a hora do parto, e se tenha data prevista e agendamento da maternidade, a hora H é uma incógnita. É determinada por um ritmo interno, próprio, que só seu corpo sabe.

Essa sensação de falta de controle, amplificada pelo desconhecido agrava-se a partir da 37º semana de gestação. Uma vez que, o feto deixa de ser prematuro e a qualquer pode anunciar-se. Nesse sentido, descompassos se estabelecem. Corpo e controle tornam-se parceiros da impertinência.

O corpo segue lento, gozando da sua autonomia e controle próprio, despreocupa-se com o cumprimento do calendário. Se faz no seu tempo, atento as suas especificidades: o ritmo das contrações, o amadurecimento da placenta e as movimentações fetais. Ensina-nos a trafegar quase imune ao imperativo do controle.

Dentro da sua sabedoria, usa a imprevisibilidade como um antídoto para o contexto de controle e antecipações, no qual estamos habitualmente "treinados". Afinal quanto mais planejamos e temos o controle absoluto da situação, garantimos o cumprimento maior do que nos foi programado. Um tipo de desempenho que discursa a tão popular frase: "não deixe para amanhã, o que pode fazer hoje" e no qual encerra o perigo de viver-se sempre refém de um trânsito esvaziado de presentificação.

A escolha de usar a imagem do "caramujo" é uma possibilidade de aprender com outros ritmos. Entender a lentidão, não como um desconforto, e sim como um serviço para experimentar a interiorização da natureza. Voltar-se para suas especificidades e esquecer a cronologia inventada pelo homem. Pois, o que vale no contexto da gestação é o relógio-corpo, seus fluidos como o mover-se de um ponteiro e o batimento fetal como o ritmo do tic-tac.
Outros tempos... outras marcações... ensinamentos preciosos da corporeidade.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

AINDA EM MOMENTO NOSTALGIA...




"Calma, tudo está em calma...deixe que o beijo dure, deixe que o tempo dure..."
Grande aprendizado, nesses momentos de espera...

INVADIDA POR NOSTALGIA, SONHOS, POETIZAS E MÁRTIRES...


Ultimamente tenho tido insônia...Normal nessa fase final de gestação. Acontece que ao invés de contar carneirinhos, sou invadida por memórias, sonhos, poetizas e mártires... Um desejo enorme de guardar momentos bons, sonhos, pessoas e exemplos para minha tutuca que chega. Vou desde as memórias em família, o luar de Arraial D'Ajuda, os poemas de Cecília Meirelles, os escritos de Alice Ruiz, até chegar ao discurso de Martin Luther King. Como se pudesse parar o tempo e guardar preciosidades que o viver oferece...
Para você filha, parte da sabedoria de um grande homem...
"É melhor tentar e falhar que ocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que nada fazer. Eu prefiro caminhar na chuva a, em dias tristes, me esconder em casa. Prefiro ser feliz, embora louco, a viver em conformidade. Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização. Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira. O ódio paralisa a vida; o amor a desata. O ódio confunde a vida; o amor a harmoniza. O ódio escurece a vida; o amor a ilumina. O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo..."(Martin Luther King)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

EU QUERO UMA CASA NO CAMPO...


Passeando no blog - Menina de Óculos (http://meninadeoculos.blogspot.com/), me deparo com uma postagem que me identifico de cara. Na qual a escritora de maneira muito afirmativa deseja ser doutora, levita e ter uma casa no campo. O que fez meu ego berrar imediatamente: TAMBÉM QUERO!!!!
Engraçado isso, agora me caí a ficha os motivos pelos quais me graduei em Medicina Veterinária (?????). Percebo que não era somente um AMOR INCONDICIONAL pelos animais, mas muito da vontade de ter uma casinha no campo. De modo que me pergunto agora, o motivo pelo qual esse desejo retorna? Ressuscitou , foi? Será que tem haver com o instinto maternal? Oxe... se a Veterinária ficou lá atrás.
Enfim... Acolho o desejo. E assim como minha companheira blogueira, também pretendo finalizar o doutorado - tornar-me doutora e, e, e...
... ter uma casa no campo, onde eu possa aninhar minha família, marido e filha, de um modo mais humanizado, MENOS CAPITALISTA e com a consciência de que somos um com o planeta;
... ter uma casa no campo para aprender com o noção do tempo, os cheiros e os gostos;
... ter uma casa no campo, onde eu possa falar com DEUS e contar as estrelas quando a noite chegar;
... ter uma casa no campo para dançar com os pés descalços, tendo apenas como testemunha a lua cheia e o Senhor do Universo;
... ter uma casa no campo para colher o alimento na minha horta e aprender com os ciclos da natureza;
Será possível? Talvez, não. Que a casa no campo, seja uma boa metáfora no meio da selva de pedra. Uma tentativa de revisitar os desejos mais íntimos - o campo dos sonhos e re-direcionar ações.
Para finalizar, canto:
"Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal"
E você, qual é a sua casa no campo? O seu desejo mais íntimo?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SOHEIR ZAKI: A POÉTICA SE FAZ


Retomo a análise dos vídeos. Para quem chega agora no blog, explico que comecei a meter a mão nesse canteiro de obras com o vídeo da Fifi Abdoo (quem se interessa, veja nas postagens antigas). Nesse momento, tento cumprir o prometido: debruçar-me em Soheir Zaki. E de cara, explico a escolha do Vídeo. Em 1º lugar é apenas a primeira parte de uma rotina, dividida em 4 partes. Mas me detenho apenas a esta, justamente por trazer elementos indispensáveis a minha análise.
Vamos lá...
Inicialmente reconheço que a escolha foi proposital e não uma escolha por afinidade, como assim? Pois preferencialmente me encanto com Soheir dançando um Tacksin e em edições pequenas. Contudo o que chama atenção é o paradoxo entre a qualidade de movimentação escolhida por Soheir e o uso do espaço. Se vocês perceberem vejam que ela entra se apresentando com um véu, comum na entrada em cena, mas com a evolução da música, ainda assim, opta em manter-se com deslocamentos mínimos. Para os dias atuais, digamos que causa um certo estranhamento.
Se chegarem até o ponto 3:13 do vídeo, terão uma dimensão do tamanho do palco e da disposição dos músicos. De modo que é estranho percebe-lo sem uma ocupação espacial amplificada, preenchido com deslocamentos maiores e a tendência de Soheir manter-se centralizada e próxima a sua orquestra. Devo confessar que minha coleção de informação tão habituada a arabesques, piruetas, giros e movimentações de quadril em deslocamento no espaço, me deixou mal acostumada com esse tipo de escolhas.
Mas vamos em frente...
Por outro lado perecebo que preciso reconhecer outros ganhos. E vou me dando conta que Soheir nada mais é que um antídoto para os regimes de visibilidades que estamos tão acostumadas. Pois a nossa acuidade visual amplificou-se e pede de alguma forma uma hemorragia de informações em milésimos de segundos. Basta pensarmos no que a disposição de uma tela de computador causou a nossa cognição (?). Afinal, hoje somos capazes de estar com muitas "janelinhas abertas", sejam estas MSN, Orkut, Skype, Facebbok, etc. ao mesmo tempo em que digitamos um texto, atendemos ao celular e prestamos atenção ao nosso entorno.
O que explica o modo como meu corpo (entendido como mente e corpo inseparáveis) entende como um tédio a economia de movimentos de Soheir. Afinal os meus olhos pedem uma avalanche de informações, como se fossem as janelinhas abertas na frente do computador. Juro, que ao mesmo tempo que este corpo dançava no vídeo, o meu sugeria passos e uma outra organização espacial. Demonstrando certa intolerância em aceitar escolhas outras, uma vez que estamos e somos contaminados por um HIPERTROFIA do mais, cada vez mais e mais.
Retornando ao vídeo podemos dizer que a economia de movimentos e o MINIMALISMO como uma qualidade da dança, permite que SOHEIR convide o público para o seu espaço cênico. E de forma muito pessoal converte o VIRTUOSISMO em uma POÉTICA que não somos mais capazes de indentificar em nossos dias. Talvez por isso, algumas pessoas não tenham mais paciência ou gosto pelas antigas bailarinas egípcias, o que favorece certo desprestígio do passado.
Entretanto podemos aqui dizer que é no minimalismo do movimento, na forma como Soheir executa um Shimmie em "L" (ou outro movimento aperesentado), de modo tão localizado e claro, que se estabelece uma outra noção de espaço. É a partir dessa observação, que podemos dizer que o PALCO se faz no corpo e é no corpo de Soheir que os movimentos acontecem. Como se, de fato, deslocamentos/escolhas acontecessem em outro lugar - NO CORPO e não apenas nos limites da cena: boca de cena, meio do palco, extremidades, etc. O que nos permite dizer o quanto esse corpo-palco nos apresenta apropriação técnica, ao mesmo tempo que simplicidade e singeleza (entendam minimalismo/economia como substratos para a simplicidade e a singeleza apresentada).
Continuando com essa idéia acima, podemos dizer que o MINIMALISMO não é assunto novo para Soheir, acompanha-a em muitos outros vídeos e se torna um TRAÇO PESSOAL que se corporifica em outras possibilidades. Abre portas para uma poética própria, que privilegia a leitura musical no corpo, como se este fosse uma partitura musical. Basta adiantar o vídeo para o ponto 3:16 que veremos como seu corpo se traduz ao som do acordeon e mais a frente nas pequenas marcações. Sem que fosse preciso grandes efeitos ou algo mais além do necessário para este corpo fazer-se música. É justamente, nessa particularidade, que percebemos a poética desse corpo, que faz da sua destreza/simplicidade uma escuta musical.
Soheir nos mostra um refinamento que não reconhecemos hoje, uma vez que a tendência de grandes efeitos coreográficos fez-nos padecer na ignorância de acharmos o virtuosismo como a garantia de uma boa apresentação.
Que possamos aprender sobre o quê de fato se faz preciso dar visibilidade quando se dança - outros regimes no corpo e não apenas no entorno dele (palco? roupa? efeitos musicais? iluminação? maquiagem? adereços?). Reapropriações/conduções que pedem muito estudo e trabalho em sala de aula. Talvez nessa direção encontremos um solucionamento capaz de nos deslocar da HIPERTROFIA DOS SENTIDOS, que de algum modo também embutrece nossa percepção e dificulta experimentar regimes guiados por singeleza e simplicidade. Afinal por onde andará nossa percepção fina e o gosto pelo que amparentemente não está em negrito, contudo está ali, de forma mais sútil, poeticamente falando ???!!!!!!
Quem gostou, pode me indicar outros vídeos de outras bailarinas (os)? Aceito sugestões.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

IMPRESSÕES CAPTURADAS...


"Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio" (Clarice Lispector)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BENEFÍCIOS NA DANÇA DO VENTRE: UMA LISTA DE IN-VERDADES?


Quem não se lembra de uma lista de benefícios agregada à prática da dança do ventre? Como se fosse uma bula indicativa a informar tantos ganhos milagrosos. E que de alguma forma é incorporado ao discurso professoral na maioria das vezes que uma aluna se aproxima com a seguinte pergunta: quais os benefícios da dança?

VAMOS PARA UMA DAS POSSÍVEIS LISTINHAS...


 Desenvolve a auto-estima;
 Estimula a memória, a concentração e a atenção;
 Aumenta a confiança no seu potencial individual;
 Resgata a feminilidade;
 Ativa a circulação, aumenta os reflexos e alivia as tensões;
 Aumenta a flexibilidade e alongamento;
 Auxilia em problemas menstruais, hormonais e partos, diminuindo cólicas, equilibrando as funções sexuais e facilitando contrações e dilatações;
 Trabalha músculos, enrijecendo e tonificando;
 Atua diretamente no centro de energia do corpo, que se encontra no ventre, distribuindo a mesma de forma equilibrada.

E blá, blá, blá, blá...

Eu, particularmente adoro uma bula de remédio e me sinto muito atraída por indicativos como esses. Mas nunca pensei em reproduzir algum tipo de discurso apoiado nesses benefícios. Até porque podem se constituir in-verdades a depender de cada corpo e contexto de prática. Afinal descritos assim de forma genérica, não passam de um efeito em “suspensão” que pode ou não acontecer no corpicho. Quem saberá? Como acontecerá? Lembro-me que sempre dizia o seguinte: “na literatura está descrito que, já no meu corpo o que percebo é...”.

Assim, ao invés de reproduzir algo fora do meu corpo, sempre busquei estar atenta ao que nele acontecia. Nada mais justo usar um discurso que se apóia no conhecimento produzido no corpo e não em meia dúzia de in-verdades fora dele. (Aqui, cabe a explicação da escolha do termo in-verdade. Ou seja, uma grafia que já indica uma ambivalência contida em toda verdade enunciada. Afinal quem hoje sustenta algo como verdade absoluta? A depender do contexto, a verdade pode ser relativizada e tornar-se distinta ao que se pretendia).

Não quero com essa postagem rastrear os mitos difundidos. Fazer uma comparação prática do que a literatura descreve. Nunca fiz antes, qual o motivo de desmontar esses fetiches agora? Mas devo confessar que com a gravidez, fiquei muito curiosa com essa associação: dança do ventre x gestação. Assim como as promessas difundidas no trabalho de parto. E cada vez que vai chegando mais pertinho do nascimento da minha filha, vou me tornando meio “São Tomé de saia”, ou melhor, “de barrigão”, quero mais ver para crer. Afinal eu sempre ouvi casos de dançarinas que tiveram seus bebês como num passe de mágica, tipo: efeito pó de pirlim pim pim, olha o bebê ai gente. Chegando ao mundo escorregando igual a quiabo! Quem nunca ouviu coisas como essa?

Em meu caso, devo esperar para crer. Ainda que não seja possível, visto que por razões médicas fiz a opção de uma cesariana (com toda minha indignação!!!!). Mas quem sabe não será o meu corpicho uma prova viva de que a dança, de fato, auxilia o trabalho de parto e Maria Elisa nasça escorregando? Será?

Mas devo partilhar um ganho que não é fetiche. E se deve muito ao trabalho de fortalecimento da musculatura da lombar (quadrado lombar) no período em que me dediquei exclusivamente à dança do ventre. Pois percebi que toda a minha preocupação com o encaixe pélvico na hora da execução dos movimentos e o uso adequado da musculatura abdominal não foi em vão. Foi um serviço ao meu bem estar postural na gestação. Afinal mal tive dor lombar e estou sustentando 15 kilos a mais (minha filha é enormeeeeeeeeeeee) de forma bem suportável.

Parece que a queixa mais recorrente das gestantes: DOR LOMBAR, não encontrou abrigo no meu corpinho. Ainda que me sinta uma pata ambulante, com todo o meu eixo deslocado para frente do corpo, percebo que meu corpo guarda uma memória adquirida com a dança. E vez ou outra se auto-corrige, se alinha, se refaz. Sinceramente, só tive desconforto na lombar na época que estava finalizando o semestre do Doutorado em Sampa, justamente pelas horas destinadas em frente do computador. Entretanto agora, nessa fase final, com a sobrecarga de peso, que tenderia agravar a lombalgia, o que sinto mais são as cotoveladas e pontapés de Maria Elisa e uma leve ardor nas costelas.

De modo que, resolvi deixar esse registro aqui e escrever que o fortalecimento da musculatura lombar e a memória do alinhamento postural, é sim um ganho na dança do ventre, ainda que seu corpo passe por transformações outras e desvie do padrão adquirido com a prática. Acreditem! Esse benefício no meu corpicho se configura uma verdade construída e não descrita apenas na literatura. Por isso meninas, vamos encaixar o quadril e dançar com o abdômen para dentro. Não se esqueçam: mais a frente, uma futura gestação vai “lhe cobrar” esse ganho!

OBS: Valeu a minha paranóia de dançar com o quadril encaixado. Lembram da minha "bronca" quando percebia um bumbum desencaixado e a barriga estufada para fora? Não foi em vão....