quinta-feira, 22 de outubro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
SERÁ QUE A GENTE PRECISA DE TANTA PRODUÇÃO DO MESMO?
No último encontro do CED/PUC/SP- Centro de Estudos da Dança, coordenado pela professora Helena Katz, algumas questões levantadas a respeito da dança contemporânea soaram tão familiar que peço licença para migrá-las (com as devidas ressalvas) para “nossa” dança do ventre. Vamos lá...
Quem nunca viveu a sensação de ir a uma Noite Árabe e ver uma enxurrada de “mesmos”? Como se ligasse o piloto automático e se reproduzisse um entendimento que serve a todos. Como por exemplo, o estilo clássico, com a mesma entrada de véu e uma combinação de movimentos que ganha certa estabilidade para não dizer previsibilidade. Obrigando muitas dançarinas a buscar a dança clássica e a repetir o que está “na moda’, desobrigando-as a dançar o que realmente gostariam. Eu mesma, já ouvi de uma grande dançarina em SSA que para ela era um “desafio” aventurar pelo estilo clássico, ainda que não fosse o seu desejo de fato. Como é difícil escapar disso! Parece que certas escolhas ganham estabilidade, gerando um tipo de entendimento de espetáculo que se torna autônomo. Quando a gente vê, olha ele ali em cena, várias vezes, muitas vezes... formaliza-se no circuito... O que gera a seguinte situação: o consumo de uma determinada idéia, um marcador de mercado que formaliza um modismo! Tão diferente da possibilidade da idéia mover o ambiente da dança, gerar outros entendimentos e romper com o que é “in”.
...
Aqui, lanço a pergunta- título desse texto: será que a gente precisa de tanta produção do mesmo?
A reprodução dos mesmos é um traço/sintoma que vem acontecendo na dança contemporânea e na dança do ventre. É claro que com contextos diferentes. Para a dança do ventre, que é a minha vivência, tenho algumas hipóteses. Mas por agora vou me ater apenas a uma, ou seja, o acesso instantâneo ao mercado. Muita gente vira professora em poucos meses. Quase todas as alunas são seduzidas para se apresentar na mostra de final de ano. Isso independe da qualificação ou do tempo que se tem de estudo na área. TODO MUNDO JÁ É DANÇARINA DESDE SEMPRE! O que perde a possibilidade de experimentar, exercitar a criação e processo de investigação da sua assinatura pessoal. De exercitar escolhas. Afinal temos um cardápio tão vasto na dança do ventre, do folclore, ao POP, ao clássico, as fusões, etc. A pressão de ter um produto é tão grande, que acaba-se trilhando o caminho dos mesmos. Recorre-se o que está estável no mercado.
Mais perguntas: todo mundo tem que dançar no final de ano? Por que tem que virar produto? Arte é produção em grande escala?
Um agravante: o público legitima essa fábrica de dançarinas precoces. A pessoa está ali no palco, todo mundo levanta e grita: arrasou, huuuuuu, linda! Quem vai dizer que não é dançarina?
Outra questão que ajuda na legitimação de dançarinas precoces: a facilidade de acesso a material pronto na internet. Basta procurar um bom vídeo no youtube e copiar! Copia-se tudo. Música. Coreografia. Roupa. Maquiagem. Consagra-se o consagrado. Escolhe-se o marcador do mercado.
É preciso romper com essa lógica de consagração dos mesmos. E da super produção de produtos e inserção precoce no mercado. E a “culpa” é da estrutura, onde todos têm que sobreviver. Desde quem é dono de escola e precisa colocar “trocentas” pessoas em cena na apresentação de final de ano, a aluna que sonha com o dia da apresentação ou os amigos/familiares que perguntam: e aí vai dançar quando? Como se apenas o palco legitimasse a dança.
Sinto saudades do tempo em que a falta de acesso aos conteúdos da dança do ventre (DVDs, vídeos na web, etc), não nos deixava outra opção: criar nossas coreografias sem a ditadura de um modelo suspenso. Exercitava-se a experimentação. São raras as pessoas que hoje buscam inspiração nesses modelos, só inspiração, um frescor, oxigênio mesmo, que ventile outras possibilidades que dizem respeito do nosso corpinho e do nosso processo cognitivo e, não do corpinho do outro.
Os vídeos estão ai. O acesso está ai. Porém cabe a nós entender que fazer arte não é reduzir a dança as mesmas escolhas (copiou-colou). É preciso buscar oxigênio. Ou continuaremos a ir ver os espetáculos com as mesmas caras, previsíveis, com as mesmas frases prontas (Linda! Arrasou! Adorei a roupa!), repetindo a mesmice. Mesmice no palco e fora do palco. Somos todos constitutivos e temos a arte que fazemos parte. Que arte queremos ter? que dança queremos fazer?
Por favor... porosidade... oxigênio... mais vozes...
Quem nunca viveu a sensação de ir a uma Noite Árabe e ver uma enxurrada de “mesmos”? Como se ligasse o piloto automático e se reproduzisse um entendimento que serve a todos. Como por exemplo, o estilo clássico, com a mesma entrada de véu e uma combinação de movimentos que ganha certa estabilidade para não dizer previsibilidade. Obrigando muitas dançarinas a buscar a dança clássica e a repetir o que está “na moda’, desobrigando-as a dançar o que realmente gostariam. Eu mesma, já ouvi de uma grande dançarina em SSA que para ela era um “desafio” aventurar pelo estilo clássico, ainda que não fosse o seu desejo de fato. Como é difícil escapar disso! Parece que certas escolhas ganham estabilidade, gerando um tipo de entendimento de espetáculo que se torna autônomo. Quando a gente vê, olha ele ali em cena, várias vezes, muitas vezes... formaliza-se no circuito... O que gera a seguinte situação: o consumo de uma determinada idéia, um marcador de mercado que formaliza um modismo! Tão diferente da possibilidade da idéia mover o ambiente da dança, gerar outros entendimentos e romper com o que é “in”.
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Aqui, lanço a pergunta- título desse texto: será que a gente precisa de tanta produção do mesmo?
A reprodução dos mesmos é um traço/sintoma que vem acontecendo na dança contemporânea e na dança do ventre. É claro que com contextos diferentes. Para a dança do ventre, que é a minha vivência, tenho algumas hipóteses. Mas por agora vou me ater apenas a uma, ou seja, o acesso instantâneo ao mercado. Muita gente vira professora em poucos meses. Quase todas as alunas são seduzidas para se apresentar na mostra de final de ano. Isso independe da qualificação ou do tempo que se tem de estudo na área. TODO MUNDO JÁ É DANÇARINA DESDE SEMPRE! O que perde a possibilidade de experimentar, exercitar a criação e processo de investigação da sua assinatura pessoal. De exercitar escolhas. Afinal temos um cardápio tão vasto na dança do ventre, do folclore, ao POP, ao clássico, as fusões, etc. A pressão de ter um produto é tão grande, que acaba-se trilhando o caminho dos mesmos. Recorre-se o que está estável no mercado.
Mais perguntas: todo mundo tem que dançar no final de ano? Por que tem que virar produto? Arte é produção em grande escala?
Um agravante: o público legitima essa fábrica de dançarinas precoces. A pessoa está ali no palco, todo mundo levanta e grita: arrasou, huuuuuu, linda! Quem vai dizer que não é dançarina?
Outra questão que ajuda na legitimação de dançarinas precoces: a facilidade de acesso a material pronto na internet. Basta procurar um bom vídeo no youtube e copiar! Copia-se tudo. Música. Coreografia. Roupa. Maquiagem. Consagra-se o consagrado. Escolhe-se o marcador do mercado.
É preciso romper com essa lógica de consagração dos mesmos. E da super produção de produtos e inserção precoce no mercado. E a “culpa” é da estrutura, onde todos têm que sobreviver. Desde quem é dono de escola e precisa colocar “trocentas” pessoas em cena na apresentação de final de ano, a aluna que sonha com o dia da apresentação ou os amigos/familiares que perguntam: e aí vai dançar quando? Como se apenas o palco legitimasse a dança.
Sinto saudades do tempo em que a falta de acesso aos conteúdos da dança do ventre (DVDs, vídeos na web, etc), não nos deixava outra opção: criar nossas coreografias sem a ditadura de um modelo suspenso. Exercitava-se a experimentação. São raras as pessoas que hoje buscam inspiração nesses modelos, só inspiração, um frescor, oxigênio mesmo, que ventile outras possibilidades que dizem respeito do nosso corpinho e do nosso processo cognitivo e, não do corpinho do outro.
Os vídeos estão ai. O acesso está ai. Porém cabe a nós entender que fazer arte não é reduzir a dança as mesmas escolhas (copiou-colou). É preciso buscar oxigênio. Ou continuaremos a ir ver os espetáculos com as mesmas caras, previsíveis, com as mesmas frases prontas (Linda! Arrasou! Adorei a roupa!), repetindo a mesmice. Mesmice no palco e fora do palco. Somos todos constitutivos e temos a arte que fazemos parte. Que arte queremos ter? que dança queremos fazer?
Por favor... porosidade... oxigênio... mais vozes...
CHEGA DE UMA HIPERTROFIA DE VOZES QUE NÃO PODEM SER DIFERENTES!
domingo, 4 de outubro de 2009
Impressões Capturadas...
Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um
formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar - como em Chagall.
Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por
aí a desformar.
Até já inventei mulher de 7 peitos para fazer vaginação
comigo.
(Manoel de Barros, de novo em Livro sobre nada)
sábado, 3 de outubro de 2009
Apatia...
Esses dias que antecedem o falecimento de meu pai, ocorrido em 12 de outubro de 2008, pouco tenho a escrever... Sou tomada por uma dor tão grande, que para me proteger visto-me com o manto da apatia...que tem a cor dos dias cinzentos de São Paulo...
"Só me importa esquecer e esquecer
O impossível de esquecer.
Nunca se esquece, tudo se lembra ocultamente.
Rui Knopfli, “Aeroporto”
O impossível de esquecer.
Nunca se esquece, tudo se lembra ocultamente.
Rui Knopfli, “Aeroporto”
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