sexta-feira, 7 de agosto de 2009

MESTRADO: Por que.PORQUE.Porquê. Por quê.

PARTE I

O uso dos porquês possui empregos diferenciados, aqui cabem todos eles. A escrita a seguir, será fruto de uma reflexão pessoal e inesgotável dos motivos/ignições que me fizeram trilhar a carreira acadêmica. Diversos porquês me constituíram e constituem desde a reprovação na 1ª seleção no PPGDANÇA/UFBA em 2006, seguido da aprovação em 2007. Alguns foram aquietados, maturados, negociados, explicados, não respondidos e seguem agora no Doutorado. Afinal, o que seria da nossa vida SEM os porquês a maturar nossas escolhas?

A idéia de fazer o mestrado em Dança surgiu da escolha de seguir a carreira acadêmica, lecionar em uma instituição de ensino superior, uma vez que tive a experiência de ser professora substituta nos anos de 2005/2006 na graduação em Dança da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia. Tive o privilégio de dar aulas em diversos módulos pedagógicos/disciplinas: Arte como Tecnologia Educacional, Prática do Ensino da Dança, Estudos do Corpo, Análise Crítica da Dança, Rítmica, etc. Foi um período de muita dedicação, estudo, confronto diário e a busca do sentido/entendimento do que seja um educador.

Esses dois anos foram uma imersão no requinte intelectual, pois como diria o filósofo Orlando Bonafé; “eu gosto da idéia requintada, eu gosto do pensamento complexo”. Um período no qual fui instigada e instiguei meus alunos ao confronto e não ao conforto. A operar as suas idéias/sonhos e a transformar a passividade intelectual. Afinal quem disse que quem dança não gosta de pensar, ler e escrever? Dançar se faz na teoria e prática. Nosso corpo é “teóricoprático”.

Lembro-me que na disciplina de Arte como Tecnologia Educacional I, sugeri um exercício para o começo da aula. O aluno teria que em 15 minutos expor informalmente sua prática enquanto educador/professor de dança. Enquanto a outros caberiam a tarefa de questionar: Metodologia? Objetivo? Base teórica? O que faria diferente? Dificuldades? A idéia era a percepção de que toda fala/fragmento de um discurso vem comprometido com um pressuposto, uma idéia de mundo, um entendimento de dança, etc. e o mais importante: compromisso político da prática (ou não). Exercício possível a partir da “desacomodação” e questionamentos da fala proferida. Pois todos nós sabemos, como nossos discursos aparentemente são arrumadinhos. Mas que escondem fragilidades/incoerências de uma prática pouco questionada.

Logo, seguidor desse BLOG, percebe-se que sou uma pessoa que gosta do confronto. Diferente de oposição. Acredito que questionar-se ajuda a desacomodar hábitos que estão/são corpo. Os porquês direcionam, freiam, transformam. São operadores das nossas escolhas e sonhos, para não falar de idéias.

Por isso não acredito em coelhos que saem da cartola. Coincidências. Sorte. Nós atamos os fios das nossas escolhas. Agora a questão está no modo de como você se apropria dessas escolhas e as desenvolve. Não basta escolher. É preciso dar sentido. Construir-se. Dar visibilidade a esse processo de escolhas e construção.

Aqui, surge outro companheiro de viagem: “para quê”. Para quê mesmo o Mestrado? E mesmo que não se tenha todas as respostas, aqui é preciso dizer que vale mais o exercício de propor e repropor questões, do que respostas engessadas e acabadas.

Nesse sentido, como já foi dito antes, torna-me MESTRE significaria a habilitação necessária para participar de concursos na esfera do Magistério Superior. Resposta clara e objetiva para a questão acima. Contudo, não a única.

Assim, durante a escrita do Pré-Projeto de Mestrado, instrumento necessário para a seleção, um desejo me impulsionava: a possibilidade de maturar uma prática de atuação com adolescentes vítimas de abuso sexual. Ampliar a discussão em dança e inaugurar um campo de pesquisa – a dança do ventre em interface com a violência sexual.

Que desafio, hem? Pois se não bastasse ousar produzir conhecimento em um campo nunca pesquisado, o entendimento de/sobre dança foi montada a partir de uma estrutura preconceituosa e cartesiana. Com argumentos que reforçam o não questionamento e a não pesquisa em dança. Pois crescemos ouvindo dos nossos professores que pensar demais estraga a dança. Que o corpo que dança foi feito para expressar e não pensar. Em outras palavras, decapitamos nossa lógica de formulação em dança e valorizamos o corpo como apenas o lócus do sentimento.

Equivocadamente reproduzimos o pensamento de Descartes ao entender a mente separada do corpo, comprometendo o corpo como parte impensante e consequentemente a dança como linguagem indizível, sem lugar de fala e de comunicação. Basta apresentar-se, basta entreter - ARTE QUE SE AUTO-APRESENTA e, acaba ao final dos aplausos. Ahhh vida, ohhh céus...

Foi nessa matriz que muito de nós foram gestados. O que reduziu consideravelmente possibilidades de entender/re-apresentar a dança. Lembro que em 2005, ao final do Projeto Re-creio (A Dança do Ventre na Reconstrução da Corporeidade em Adolescentes Vítimas de Violência Sexual) fui tomada por uma frustração, justamente por não ter argumentos mais “sólidos” do modo como a dança do ventre ajudou essas adolescentes na situação do abuso sexual. Reduzi a dança ao efeito que ela produz em nós, a exemplo: do resgate da auto-estima, notavelmente visto nos corpos dessas meninas. Mas quantos de nós ainda vamos dar as mesmas respostas as ações com dança? Será que só o resgate da auto-estima dá conta do recado? Ou a dança mudou o meu corpo, meu modo de me ver no espelho. Ou a dança para mim é vida. Blá, blá, blá....

Todas as respostas são válidas. Afinal diversas são as experiências e formas de acessar a dança. Cada corpo que dança tem o seu texto, a sua estória pessoal. Entretanto, seria mais ... (aqui caro companheiro de BLOG, você escolhe a palavra), não reduzir a dança ao efeito que ela causa em nós. Ir em busca do “como”, outros entendimentos, ao invés de olhar por cima. Olhar da copa da árvore tem seu preço, não é? Assim como descer, se aventurar de perto, meter a mão na massa... chegar até o canteiro de obras.

Foi a partir daí que entendi que a escrita da dissertação não seria apenas continuidades de um olhar mais ampliado de uma prática e sim um posicionamento político sobre o modo de proceder com a dança.

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PARTE II

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2 comentários:

  1. oi Márcia,
    Gostei muito de seu artigo. Sou coreógrafa piauiense e tentarei este ano entrar no mestrado da ufba,é bom saber da qualidade dos mestres dai.Em minha cidade(Teresina) não temos ao menos uma graduação em dança, estamos tentando implantar. Adorei a sua escrita!
    Também gosto de confrontos.

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  2. Que bom receber seu post! Posso passar informações mais específicas sobre o mestrado. Se desejar me passe um e-mail, ok? bjs

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