sexta-feira, 31 de julho de 2009

CONFISSÕES: Mestrado 2007/2008


Confesso que:

- Fui compradora compulsiva de livros. Comprei todos de Richard Dawkins e quase todos que o PPGDANÇA indicava.
-Alguns dos livros que comprei nunca os li. Encontram-se agora no guarda-móveis de Campinas à espera da mudança e possibilidade de serem lidos.
- Sonhava muito mais com uma máquina copiadora para tirar tantas xérox que desejasse do que com uma roupicha nova.
- Descobri que colocava as vírgulas no lugar errado.
- Desenvolvi um sistema caótico de anotação e fichamento que SOMENTE eu entendo. Porém eficiente por demais!
- Rabisquei e destaquei(usei caneta pilot) em vários dos trechos dos meus livros de Foucault, Pélbart e Katz. Ohhh arrependimento! Foi a emoção do encontro com as palavras!!
- Muitas vezes me perguntei: o que estou fazendo aqui? Por que não fiquei com minha casinha no campo, meus livros e nada mais?
-Em outros momentos repetia: não sei viver sem a academia. Eu só quero chocolate e a vida acadêmica. Viva Lakoff e Katz!
-Me desesperei várias vezes pela dificuldade de acesso imediato ao entendimento de inconsciente cognitivo/Lakoff . Mas fiz cara de entendida!!!
- Fiz “bico” para Foucault, Agamben, Zizek, Lakoff, Katz, Vieira, Boaventura, Pelbart, Buttler, Ranciére, entre muitos outros, para depois me tornar uma fiel seguidora deles.
- Em algumas discussões teóricas (no período de alunas especial/2006), tinha a sensação que meus colegas tinham fumado uma “maconha mal fumada”, pois era muita “viagem” para o meu corpinho 100% livre de Lakoff & Jonhson, Dawkins e Pinker. (Não estou com isso querendo dizer que meus companheiros de turma fazem uso de drogas. É apenas uma metáfora!)
- Me peguei várias vezes com cara de boba (em êxtase total) ouvindo as falas de Helena Katz.
- Engordei 6 kilos e desenvolvi uma gastrite.
- Após ter entrado no mestrado, desejei ardentemente desenvolver outro projeto de pesquisa, totalmente distinto do inicial. Algo que agrega-se minha outra profissão – Veterinária - com a Dança. Achei que poderia ser etóloga, evolucionista e dançarina. Acho que em 2 anos poderia ter desenvolvido pelo menos 3 projetos diferentes.
- Sem a vivência das disciplinas do mestrado, participação nos grupos de discussão/eventos, indicações teóricas, orientações... não seria possível fazer as conexões que fiz.
- Nunca me confessei, apesar de ter estudado em um Colégio Nossa Senhora da Conceição.

OBS: Ahhh... que tal você também compartilhar suas confissões!!!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Me ensina a não andar com os pés no chão


"Olha

Será que é uma estrela

Será que é mentira

Será que é comédia

Será que é divina

A vida da atriz

Se ela um dia despencar do céu.."
(Beatriz, Chico Buarque/ Edu Lobo)



POR UM TRIZ...Escritas Iniciais

Hoje conversando no MSN com uma amiga mestranda do PPGDANÇA/UFBA, li a seguinte frase: "escrever é como caminhar no escuro, você nunca sabe como/onde vai pisar ou se vai pisar em algum buraco". E é exatamente isso!! Principalmente quando iniciamos os nossos passos na pesquisa e não compartilhamos nossos rascunhos com a orientadora. Foi desse "jeitinho" (como costumam falar os mineiros) que me senti nas minhas primeiras tentativas. Um bêbado equilibrista, BEATRIZ (música de Chico Buarque), me perguntando se um dia eu despencaria do céu? Ou qual seria o próximo buraco? A busca de equilíbrio entre minha veia poética e o rigor esperado da academia.


Segue-se nos erros, acertos, leituras, fichamentos, embates com a orientadora, etc. Para no fim entendermos que "Para sempre é sempre por um triz", como canta Chico. Pois afinal, a gente lê, refaz a leitura, escreve novamente e pensa que poderia ser melhor. Foi quase... um triz...


Abaixo segue uma das minhas primeiras tentativas de escrever um artigo... logo no primeiro semestre de 2007.


Por um triz...

Impressões Capturadas

"A luz sempre brilha para aqueles que nunca esquecem de acender as velas"
Uma frase oferecida por uma amiga e funcionária da Escola de Dança/UFBA, ao saber da minha aprovação no Doutorado em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Obrigada minha Liu!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Dia D... Defesa!


Só quem sobrevive ao Mestrado é capaz de ser BREGA: tirar fotos, fotos e mais fotos no dia da Defesa (18/12/2008)

Meu quarto... por entre o CAOS e por uma Lógica Organizativa.


Outubro de 2008/Ajustes finais da dissertação

Minha fiel companheira de estudo...


O que seria de mim sem seus súbitos roubos? minha havaiana, a caneta no chão...

Seu descabimento autorizado: se embrenhar entre meus livros e amassar minhas anotações...

Sua companhia quase muda, mas que me preenchia madrugada a dentro...

Minha PANDORA...

Pandica, PAM...

Que me seguia pelo apartamento dos meus pais e retornava ao meu quarto, sem reclamar do refúgio acadêmico.

Impressões Capturadas...

"Intelectual é uma pessoa que encontrou algo mais interessante que sexo." (Aldous Huxley)
Encontrei no Blog de Eduardo Bessa. Não é demais?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sigo descabelada... Mestrado,Doutorado,Mudanças...zumbi dos meus desejos...


Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...


Ao rememorar os anos de 2007 e 2008 (principalmente o ano de 2007), nos quais me tornei mestranda do Programa de Pós-Graduação em Dança/Escola de Dança/Universidade Federal da Bahia, penso que deveria ter escrito um diário de impressões pessoais. Afinal, o mestrado é literalmente um mix de suicídio diário com proclamações de ressurreição. Morre-se e vive-se todos os dias. Enquanto pessoa, SER HUMANO, mesmo. E o que fica de mais bacana, é sobreviver à dilaceração emocional e negociar com as perdas e ganhos diários.

Perdi a conta de quantas vezes reli Foucault, Pelbart, Aganbem, Zizek, entre outros cientistas políticos, na tentativa de acessar algumas informações e conexões ali possíveis. Rabiscava os livros (sorte que todos eram meus) e criava um sistema de anotação quase caótico, que me ajudasse a entender o que ali estava escrito. Ahhh... Como eu tinha vontade de morrer ao ler aqueles parágrafos como se fossem um romance ou a revista boa forma. Palvras.PALAVRAS.PAlaVRAS.paLAVRas. Uma violência a minha identidade NERD. Meu estômago ardia, minhas pernas dançavam um balé inquietante... Sem falar, na vontade de fazer tudo: ver televisão (coisa que não me apetece muito), faxina de casa, assaltar a geladeira, etc. etc. etc. menos reler o texto novamente. Porém um anjo bom, compadecido pela tamanha crueldade sussurrava: calma... olha os caras que você chamou para conversar...a sua coleção de informação ainda está num processo de refinamento... calma... dê um desconto... tempo...quando você menos perceber... o texto ficará familiar. E assim foi. Tanto que virei compradora compulsiva dos livros de Foucault, Aganbem e Zizek. De Aganbem, por exemplo, tenho todos publicados no Brasil e simbolicamente equivale a um bem precioso. Agora me pergunte: leu todos os livros comprados? – Claro que não! Mas estão aqui à espera... como tantos outros desejos.

Entretanto, além dos suicídios teóricos, existe também o outro extremo: o gozo intelectual. Hum... Sem comparação com Capuccino Kopenhagen, Alfajor Argentino Havana, a maniçoba de mainha ou o acarajé de Jandira... prefiro Damásio, minha querida Helena Katz, Greiner, Lakoff e Maturana e, saborear aquela sensação de que se fala a mesma língua. Que realmente dá para chamar todos para um delicioso bate papo. Um banquete teórico! Era a glória! O céu! Cabiam todos na minha pesquisa. Redondamente falando. Argumento fundamentado, hipótese comprovada e a identidade NERD reinante. Eu, simplesmente, um gênio! Capaz de chegar àquelas conexões. Então... qual o gosto mesmo do Capuccino Kopenhagen? Sepultei todos os sabores mundanos e quase fiquei assexual. Mas esse gozo intelectual durava até a próxima orientação, na qual recebia a indicação (gentilmente falando) de que era preciso fazer recortes, focar na pesquisa e que estava vetado parte dos cientistas cognitivos convidados, afinal do que mesmo estava tratando?

Acredito que essa experiência é lugar comum a qualquer aluno de pós-graduação ou que está em trabalho de conclusão de curso. O que não me faz nenhuma heroína. Porém, com as ressalvas da gastrite, 6 kilos acima do peso, queda de cabelo, etc., posso dizer que faria tudo outra vez e me descabelaria outras quinhentas vezes, só pelo felicidade de reler a dissertação (escrita em co-autoria com a orientadora) e me deflagrar com a seguinte questão: fui eu mesmo que escrevi isso? Diante da excelência do texto construído. E por fim... Perceber que só um ser que se permite morrer e viver diariamente, academicamente falando, é capaz produzir conhecimento. Haja CORAGEM! PAIXÃO! DETERMINAÇÃO e FÉ EM DEUS!
OBS: A dissertação teve indicação unânime para publicação. A indicação de publicação foi apontada desde a época da qualificação e reiterada no dia da defesa.

São apenas recortes da dissertação...

TÍTULO:
A SUBVERSÃO DA SUJEIÇÃO: AÇÃO POLÍTICA DA DANÇA DO VENTRE EM ADOLESCENTES SUJEITADAS E EM INSTITUIÇÕES.
RESUMO:
Esta dissertação apresenta a dança do ventre como uma ação política trabalhada em três eixos: corpos-sujeitos, corpos-instituições e na oficialização da dança nos espaços institucionais. Para tanto, defende a hipótese de que a dança do ventre é uma ação subvertedora e propositora de reorganizações corporais, uma vez que atua no mesmo ambiente de ocorrência da sujeição. Para entender o corpo que dança na situação do abuso sexual, o estudo apresenta a implementação da dança do ventre em instituições especializadas da cidade de Salvador-Ba. O objetivo é analisar criticamente os encaminhamentos de dança desenvolvidos nessas instituições, de forma experimental, nos anos 2004 e 2005. Para isso, através de leituras e análises sistemáticas, foi selecionado um recorte teórico concernente às relações estabelecidas entre dança, dança do ventre, corpo, poder e sujeição. Destacam-se autores como Katz e Greiner, Lakoff & Jonhson em diálogo com as obras de Foucault, e autores das ciências políticas como Pélbart, Butler e Agamben. A abordagem metodológica se dá via procedimentos e etapas de investigação, através da aplicação de entrevistas semi-estruturadas; da análise dos dados coletados nas experiências corporais; da análise crítica dos experimentos propostos e da articulação com as instituições receptoras. Desse empreendimento, a dissertação propõe-se ainda a discutir o lugar do corpo e do corpo que dança em espaços institucionais que adotam procedimentos da natureza no trabalho com adolescentes sujeitadas pelo abuso sexual. A observação das relações e implicações filosóficas-políticas dos corpos-sujeitos e dos corpos-instituições envolvidos na discussão do abuso sexual serve ao propósito de indicar possíveis devoluções às instituições, entendidas na etapa final do estudo como proposições, ao invés de conclusões finais. O estudo prestou-se ainda à tarefa de propor a oficialização da dança no protocolo de serviços das instituições analisadas.


Palavras-chave: dança do ventre; corpo; adolescência; sujeição.


terça-feira, 7 de julho de 2009


A maior riqueza do homem é a sua incompletude
Manoel de Barros


A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando
borboletas.

Trechos do Memorial do Mestrado. Rastros de uma trilha dançante...

Setembro/2007
O meu interesse pela dança se deu a partir de uma indicação médica. Aos cinco anos de idade por apresentar déficit motor em decorrência de resquícios de um nascimento prematuro, o balé clássico surgiu como uma possível solução para esta questão. Na contramão de um acordo médico-familiar, estar na Escola de Balé do Teatro Castro Alves não se reduzia apenas ao treinamento técnico imposto pela dança e nas suas possíveis soluções para uma corporeidade fragilizada. Para mim, o mais fantástico era percorrer aqueles corredores imensos e escuros, e por inúmeras vezes desobedecer à disciplina formal e silenciosa que nos obrigava a caminhar como miniaturas de Margot Fontaine. Longe de sucumbir à fantasia de uma bailarina clássica, e oferecer ao meu corpo apenas demi-pliés como constituinte de uma corporeidade padrão, seguia correndo pelos corredores, pulando os degraus das escadas, olhando as aulas avançadas pela fechadura da porta e explorando o figurino, o ápice do proibido, com lapsos de olhares. Dentro deste contexto se iniciou meu estudo em balé clássico, muito mais pela aventura de estar num outro espaço distinto do habitual, do que pelo desejo de formação nesta técnica de dança. E assim se seguiram 10 anos, entre aulas, apresentações e participações em festivais e exames da Royal Academy Dance.

Aos 15 anos, na busca por uma outra opção de dança e sem algum pretexto para nutrir a formação em balé clássico, surgiram outras possibilidades dançantes: do jazz a dança flamenca. Incursões que seguiram até a maioridade, quando já cursando a graduação de Veterinária da Universidade Federal da Bahia, as disciplinas eletivas (Expressão Corporal e Prática da Dança), na Escola de Dança, apresentaram-se também como um outro jeito de constituir a minha corporeidade, nesse momento tão implicada com a conduta médica da profissão de Veterinária. Lembro que entre a aula de Anatomia II, grupo de dissecação de animais e a aula de estatística, retirar o jaleco e colocar a malha de dança configurava-se, no meu ponto de vista, uma subversão. E como as escolas são vizinhas, sair do prédio de veterinária e chegar ao de dança, era como burlar protocolos. Sempre ouvi dos meus professores a seguinte pergunta: você vai ensinar os cachorros a dançar? Como se a questão imposta fosse essa.

A aproximação física entre a Escola de Veterinária e a Escola de Dança, e o contato com a dança do ventre em 1993, na cidade de Belo Horizonte, durante o período do meu estágio de conclusão de curso, foram duas situações que determinaram às minhas escolhas futuras. Quando em 1995, após a seleção de mestrado em Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública na Universidade de São Paulo, se deu também a seleção para vagas residuais da Universidade Federal da Bahia, não tive dúvidas, me inscrevi no teste de habilidade específica para o curso de dança. E na contramão do desejo familiar e do contexto acadêmico-profissional, após a aprovação, abandonei a carreira acadêmica na USP e me matriculei no curso de Licenciatura em Dança.

O ingresso no curso de Licenciatura em Dança, em 1995, além estabelecer uma jornada dupla de ocupações, respectivamente, aulas na graduação pela manhã, plantões em clínicas veterinárias no período vespertino ou noturno, foi à experiência que anunciou o fim de uma carreira profissional em veterinária e a luta por uma formação em dança e consolidação no mercado de trabalho. Nesse mesmo ano, motivada pela graduação, comecei a ministrar algumas aulas de dança do ventre em Escolas de Dança de Salvador. Um movimento que se prosseguiu timidamente, até que em 1998, ainda como aluna da graduação, tive a oportunidade de introduzir aulas de dança do ventre no quadro dos cursos livres dos cursos de extensão. Essa experiência foi um grande salto na minha carreira enquanto professora, pois possibilitou as primeiras articulações entre o ensino e a pesquisa em dança. As aulas nos cursos de extensão prosseguiram até o ano de 2007, ano de ingresso no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Dança.

Desenvolver atividades de ensino no curso de extensão não apenas possibilitou consolidar meu nome no mercado da dança em Salvador e a saída definitiva do campo de trabalho em veterinária, como também, fez com que eu ampliasse o meu olhar sobre a dança do ventre e investigasse procedimentos metodológicos que atendessem à proposta pedagógica da Escola de Dança. O foco estava em destituir fazeres habituais e restituir outros: tratar a dança do ventre como princípios gerais a serem explorados e abrir brechas para um processo de investigação por parte das alunas. Ir além do entendimento da dança apenas como uma coleção de passos e do processo criativo enquanto composições coreográficas a serem reproduzidas.

No ano de 2002, ao final da graduação, mas especificamente na disciplina Prática de Ensino da Dança e durante o meu estágio supervisionado, tive a oportunidade de refletir o meu percurso na graduação. Diante de uma proposta desafiadora de propor outras inserções na prática pedagógica, fui instigada pela oportunidade de ministrar aulas de dança do ventre no CEDECA (Centro da Defesa da Criança e Adolescente), para adolescentes vítimas de violência sexual. Em 2003, sob a orientação da Profa. Beth Rangel, essa ação voluntária foi sistematizada na forma de um projeto de extensão e concorreu ao edital da Pró-Reitoria de Extensão da UFBA- SESu-MEC/PROEXT 2003. Após ser selecionado e contemplado com apoio financeiro, o projeto foi executado em 2004 e reconduzido para uma segunda etapa em 2005.

Ainda que desenvolvido de forma experimental, o “Projeto Re-CREio: a dança do ventre na reconstrução da corporeidade em adolescentes vítimas de abuso sexual”, se constituiu uma proposição inaugural. Não apenas pela aproximação de fronteiras como dança do ventre, corpo e abuso sexual, mas também por configurar a única abordagem de dança dos serviços institucionalizados ao atendimento às pessoas em situação de violência sexual. As proposições desenvolvidas, já indicavam implicações no modo como o corpo, e o corpo que dança eram tratados na situação do abuso sexual. Assim, desenvolver uma pesquisa acadêmica a partir desse campo de atuação tem um compromisso em propor questões, reflexões e indicar as instituições especializadas um outro jeito de organizar a sujeição.

Estar vinculada hoje a um Programa de Pós-Graduação em Dança vai além da possibilidade de desenvolvimento de uma pesquisa e da obtenção de um título de mestre em dança. Para mim, é a possibilidade de produção de conhecimento acadêmico em dança comprometido com desafios. Primeiro por inaugurar um campo de pesquisa no Brasil, com uma arquitetura de conexões antes nunca investigada. E, segundo por inserir a dança, e em específico, a dança do ventre em experiências de enfrentamento a violência sexual. Na contramão de um entendimento habitual de dança do ventre e da própria violência. É desvestir ações dos figurinos habituais e propor o corpo que dança como “corpossibilidades” de organização da sujeição.

Considero importante mencionar que, anterior à aprovação como aluna regular deste programa de pós-graduação, ministrei aulas como professora substituta da Escola de Dança da UFBA. Essa experiência contribuiu em muito no amadurecimento das relações entre ensino e pesquisa. E possibilitou uma troca de informações com outros professores, o que me fez construir caminhos mais consistentes para a construção de conhecimento acadêmico em dança.

Depois de ingressar no mestrado e ter sido contemplada no semestre 2007.2 por uma bolsa / FAPESB, tive que pedir exoneração do cargo de coordenação pedagógica do Curso de Educação Profissional Técnica em Dança de Nível Médio da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia- FUNCEB, justamente por não permitir acumular vínculo empregatício. É importante mencionar que os sete meses de exercício dessa função determinaram um grande crescimento profissional. Justamente pela diversidade de ações impostas. Estar à frente de 14 professores e uma média de 90 alunos de um curso técnico de dança, dentro de um contexto de transição e de mudança de proposta pedagógica, requisitava não só ações administrativas e pedagógicas, mas principalmente ações questionadoras e propositivas. Cada reunião de coordenação pedagógica e cada sondagem feita com o corpo discente constituíam a oportunidade de geração coletiva de um novo projeto político pedagógico e consequentemente, uma revisão do currículo vigente. Uma experiência que me deixava muito à vontade e que alimentava as habilidades e capacitações desenvolvidas no percurso da graduação e do período de professora substituta.

Escrever este memorial a partir da minha trama da vida, em uma narrativa que se assemelha a um conto, não tem a intenção confessional, ainda que pareça. Avessa a essa forma de comunicação, a minha proposta aqui é revisitar experiências. Experiências que são corpo e constituem pensamentos, um modo de ser e estar no mundo. É refletir o quanto transitar por experiências aparentemente não intercambiáveis possibilitou um outro jeito de organizar informações referentes à veterinária, a dança e a dança do ventre. È subverter protocolos e a reiventar jeitos de abrigar uma Márcia veterinária, licenciada em dança e também dançarina do ventre. E perceber, que de algum modo, esse jeito de estar no mundo, subvertendo e reiventando situações postas, se faz presente não apenas no domínio profissional, no jeito de encaminhar a pesquisa do mestrado, mas também desde a situação do meu nascimento. Vir ao mundo aos seis meses, com apenas um quilo e duzentos gramas, e assim sobreviver, não deixa de ser uma ação que subverte um prognóstico negativo e habitual na década de setenta.

Acredito que parte do substrato constituinte do meu projeto de pesquisa acolhe essa lógica das relações que se tecem nas experiências vividas. Pesquisar é viver. E no meu caso, viver é seguir na contramão das situações postas. Propor novos jeitos de seguir.

Primeira vez...


Peço licença e uso Cecília para dar o ponto de partida a essa escrita. Não haveria outra forma de apresentar-me sem postar parte do poema - Mulher e a Tarde de Cecília Meireles...


“Sonho muito, falo pouco.Tudo são riscos de louco e estrelas da madrugada…"


Essa também foi a dedicatória escrita por minha irmã, Lilian, ao me presentear com o livro "Viagem/Vaga Música"/Cecília nos meus 18 anos.