quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DANÇA E COGNIÇÃO

Segue abaixo algumas considerações escritas em 2007 na época do mestrado sobre dança e cognição. Espero que esse texto ajude, sirva como base, para o outro (Quando o abismo se estabelece)que vou postar a seguir.
DANÇA E COGNIÇÃO
COGNIÇÃO?
COMO SE DÁ O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO?
DANÇA É CONHECIMENTO?
COMO PENSAR COGNIÇÃO EM DANÇA?
COMO O CORPO CONHECE?
O CORPO PRODUZ CONHECIMENTO?


Várias questões surgem ao refletirmos no processo de aquisição do conhecimento. Mas se tratando especificamente de dança e conhecimento, outras implicações surgem em decorrência de um entendimento que retira o corpo como local de cognição, e aponta os processos mentais apoiados em um sistema racional conceitual, como o lócus do conhecimento. Desta maneira, perpassa um entendimento das artes do corpo, no nosso caso a dança, como uma proposição complementar, a serviço de outras áreas produtoras de conhecimento. O corpo é entendido alo como algo menor e muitas vezes apenas como um veículo a expressar as informações do mundo. Distintamente da noção de corpo como um processador a negociar as informações e a comunicá-las em tempo real em um fluxo contínuo com o ambiente. Entender o corpo como veículo é reforçá-lo como NÃO produtor de conhecimentos.


Esse entendimento provém do dualismo cartesiano postulado por Descartes (1596-1650), um filósofo que construiu um conjunto de idéias a respeito da mente e do corpo, que continuam a influenciar as ciências e humanidades nos dias atuais. Uma noção dualista que separa a mente do cérebro e do corpo, configurando o ato de pensar separado do corpo e o pensamento como o verdadeiro substrato da existência, celebrado pela frase: “penso logo existo”. (Frase que tem como premissa o pensamento racional para a existência).

Para Descartes a mente, “a coisa pensante”, estava fora do corpo, como uma substância imaterial e especial, sem localização no espaço/independente do corpo, e o corpo, como “a coisa não pensante”, material a ocupar o espaço. Tal entendimento origina a concepção do “fantasma da máquina”, que trás a idéia de “um fantasma-mente” (fora do corpo) a guiar um corpo.

Essa matriz geradora semeia crenças filosóficas básicas que estão atadas a uma visão de razão fora do corpo e transcendental, onde o sistema conceitual humano é universal, literal e independente do estudo empírico. Que contribuem significativamente para o entendimento das artes do corpo como artes menores, não produtoras de conhecimento – não pensantes, afinal a mente é o local da razão e o corpo é o local da emoção. (“Quem faz dança não pensa, não precisa estudar”).

O dualismo cartesiano é criticado duramente na segunda geração dos cientistas cognitivos, em um embate que propôs a revisão da visão clássica da filosofia ocidental, a partir de três principais descobertas:
- a mente é inerentemente corponectada
- a maior parte dos pensamentos são inconscientes
- abstratos conceituais são em grande parte metafóricos

Dentre estes cientistas, se encontram Lakoff e Johnson, que propõem uma mudança radical na nossa compreensão de razão e por conseqüência a compreensão de nós mesmos.

Lakoff e Johnson propõem o conceito de “embodiment” – mente “corponectada”, onde a mente não é fora do corpo como se acreditava, e a razão nasce da natureza dos nossos corpos, cérebros e experiência corporal. Neste sentido a mente é corponectada e a razão é formatada pelas pecularidades do nosso corpo humano, pelos detalhes da estrutura neural de nossos cérebros e pela especificidades da nossa função cotidiana no mundo.
Desta forma, segundo estes autores, a compreensão que podemos ter do mundo só pode estar estruturada em termos de conceitos moldados pelos nossos corpos. Assim, toda inferência conceitual é também uma inferência sensório-motora, o que legitima as artes do corpo como área de conhecimento, e o corpo como local de cognição.

Desmontes necessários ao entendimento do corpo como local da cognição e para legitimar a importância das experiências sensório-motoras no sistema de formação dos conceitos. O que ajuda a refutar a idéia de um sistema conceitual universal, puramente literal e fora do corpo.

Essas contribuições contrariam a idéia de cognição “desembodied”, independente do corpo e do cérebro, onde a razão e o sistema conceitual são baseados em comprometimentos a priori, adotado por uma concepção funcionalista da mente.
FONTES IMPORTANTES:
O termo "embodiment" é utilizado por Lakoff e Johnson para o entendimento da mente/corpo inseparáveis. Para estes autores o processo de conhecimento se dá no corpo. É o corpo que conhece. É o corpo que pensa. O pensamento não se produz na razão, fora do corpo.
George Lakoff é lingüista cognitivo e professor de Lingüística da Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA. Foi um dos fundadores da Lingüística Gerativa dos anos 60 e da Lingüística Cognitiva nos anos 70. Em parceria com Mark Jonhson foi autor dos livros: Metaphors We Live By (1980) e Philosophy in the Flesh, the embodied mind and its challenge to Western Thought (1999). Mark Johnson é filósofo cognitivo, professor e coordenador do Departamento de Filosofia da Universidade de Oregon. Parceiro de George Lakoff, é bem conhecido por contribuições no campo da Filosofia, Ciência Cognitiva e Lingüística Cognitiva.

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