sábado, 6 de fevereiro de 2010

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

Reinventar a Dança do Ventre a partir de outros estilos de dança, não é nenhuma novidade. Se revisitarmos a década de 30, vamos encontrar no “Cabaré da madame Badiaa” um grande celeiro de inovações e fusões.

Digamos que Badiaa Masabni foi uma das pioneiras em investir na dança do ventre como uma “arte” do Show Business. Atenta ao crescimento da cidade do Cairo com a indústria de entretenimento vislumbrou na dança do ventre uma possibilidade de ter acesso a uma fatia desse grande bolo. Em 1926, abriu a primeira casa de Show, com nome oficial Opera Cassino. Sobre sua casa noturna pode-se dizer:


“O clube noturno oferecia uma grande variedade de entretenimento como canto, dança e às vezes shows cômicos e de mágica. Badiaa o fez no modelo europeu a fim de atrair tanto os visitantes do Oriente Médio quanto os europeus que, cada vez mais, por lá passeavam. Na verdade, seu cassino foi freqüentado por uma grande variedade de pessoas de todos os lugares do mundo. Mas era mais que um cabaré, o "Cabaré da madame Abadiaa" era um popular ponto de encontro da sociedade de Cairo, freqüentado pelo Belo Mundo". [1]


Para atender a este propósito teve que repensar o formato da dança popular, propondo outras configurações a partir de mudanças no repertório dos movimentos, estrutura espacial e cênica. Rompeu com algumas tradições populares, re-criando uma dança que se adequasse a estrutura de espetáculo e que se desenvolvesse “distante do público”, em um palco, não mais nas ruas, nas feiras, tabernas etc. Apresentou uma dança para ser vista e apreciada por um público fora da cena e, por isso não mais co-autor como antes.

De acordo com as fontes consultadas, destacam-se algumas mudanças:
- o uso ampliado do palco, com deslocamentos e uso horizontalizado do espaço cênico (diferente das gawazees que desenvolviam uma dança centrada),
- utilização dos braços como adorno da dança, não apenas contornando o corpo, mas também acima da cabeça com mais movimentos flutuantes (conhecidos como “braços de cobras”),
- criação de coreografias para o palco,
- utilização de adereços, principalmente o véu,
- incorporação de músicos ocidentais à orquestra.


Nesse sentido madame Badiaa bebeu na fonte das danças ocidentais, como o balé clássico para incorporar o uso da meia ponta na dança, deslocamentos de palco e entradas/saídas de cena. Além do mais, a organização cênica e o tipo de movimentação desenvolvida pelos corpos de baile (com linhas espaciais, horizontais, diagonais, semicírculos) foram introduzidos pouco a pouco na coreografia, tendo seu ápice nos filmes de Hollywood que levaram a cena coreografias de dança do ventre em grupo, tendo a frente uma dançarina solista e atrás seu corpo de baile com o objetivo de preencher a cena, ou melhor, dar corpo a grande tela cinematográfica.

Os tempos hoje são outros, contudo continuamos a beber de outras fontes como matéria-prima para nosso processo de criação, que muitas vezes não nascem dos nossos desejos mais íntimos ou do nosso contexto específico e sim, da necessidade de sempre atender a cultura do espetáculo e a indústria de entretenimento.

Meu objetivo aqui, não é me opor a algum tipo de “instrução” que chegue para agregar algo à dança do ventre. Até porque não compactuo com o ideário de resgatar uma dança original ou “com essência”. Sou simpatizante das transformações, uma vez que elas são responsáveis em parte pelo mecanismo de sobrevivência de qualquer linguagem artística. Contudo, penso que alguns traços têm uma taxa de permanência maior e são estes responsáveis pela manutenção da linguagem. Não dá, por exemplo, propor “reinvenções” na dança do ventre que a descaracterizem ao ponto de exterminar tais traços. Caso contrário deixa de ser dança do ventre, se tornando outra coisa, ou um 3º elemento.

Há pouco tempo, Soraia Zaied bailarina brasileira em carreira no Egito agregou a sua dança características do samba brasileiro. Mais do que samba no pé imprimiu em seu visual adereços do traje típico de uma passista de escola de samba, a exemplo das penas e armação de cabeça (veja foto abaixo). Que aos meus olhos mais do que uma “inovação” ou “fusão”, significou nada mais nada menos, uma possibilidade de sobreviver como estrangeira no concorrente mercado egípcio. De forma muito inteligente usou a velha fórmula de reproduzir a leitura exotizada da cultura brasileira, ou seja, samba e carnaval (ainda bem não incluiu o futebol) para se sentir aceita. Foi mais uma a usar o “passaporte” made in Brasil para se dar bem e muito bem. Sinceramente, a princípio nada contra, porque foi uma ocorrência transitória de um percurso e não representou uma mudança no contexto da sua dança. Mais do que nos preocuparmos com as inovações das estrangeiras dançando lá fora, se faz necessário refletir nas atrocidades cometidas pelas egípcias (que deveriam zelar pelo seu bem cultural) em prol da cultura espetacular e do “dimdim” no bolso.



Acho que de partida fica clara a não oposição as inovações, fusões ou trocentas possibilidades de inserções e re-leituras na/da dança do ventre. Antes que me atirem a 1ª pedra, devo confessar que tive fases em que fui adepta a inovações. Quem não se lembra da coreografia gang na Cia. De Dança Arabeskue (dança do ventre + Hip Hop)? Do meu solo de composição coreográfica na graduação de dança, na qual fui uma medeia belly dance e usei movimentos do balé com dança do ventre. Fora minhas fusões com dança flamenca, cigana, dança moderna e jazz.

Mas, mas, mas.... a grande questão que aqui se impõe é:

VOCÊ TEM FOME DE QUE?

A minha atenção se volta para o tipo de lógica, equação, que tem pautado nossos processos de criação e escolhas de aperfeiçoamento técnico. Pois muitas vezes somos seduzidos pela imensa oferta de mercado sem ter a mínima coerência com o nosso processo PESSOAL investigativo. Com a nossa fome.

Vamos à feira e colocamos no nosso corpinho tanta coisa. De maça a pimenta do reino. De bobó de camarão a mingau de aveia. De balé a Circo. De Dança Indiana a Hip Hop. Será que nosso corpinho agüenta? Não será um pouco indigesto?
Para mim foi um pouco assustador acompanhar de longe a enxurrada de Works que houve em Salvador em 2009. Uma situação que não pode ser lida apenas como um crescimento do mercado local e aperfeiçoamento das dançarinas soteropolitanas. A diversidade de estilos, opções e a grande demanda da oferta (quase que semanal) me fizeram pensar em algumas implicações.

A primeira delas esbarra na falta de fome, no bucho cheio, sem chances do corpo maturar o sabor, refinar o paladar e conhecer mesmo o seu desejo. Qual a sua fome? A fome é substituída pela ansiedade do consumo, pela compulsão de mais uma informação, mais um certificado, ou até mesmo pelo status de estar ali em mais um work, dançando em mais uma noite árabe ou em mais uma fotinha de eventos no orkut.

Sem o estômago vazio (entenda que nem sempre bucho cheio equivale qualidade) e a impossibilidade de maturar tanta informação no corpo, se desenvolve uma lógica de formulação na dança bastante perigosa.

Mais ou menos assim...

O mais habitual:
A oferta de mercado direciona suas escolhas de aperfeiçoamento que nem sempre estão relacionadas a um processo investigativo pessoal.

APELO DO MERCADO/WORKS------------FORÇA MOTRIZ DO APRENDIZADO, MUITAS VEZES SEM O PROCESSO INVESTIGATIVO.
Aprende-se a instrução para depois partir para o processo de investigação. Ou nem se tem investigação, apenas copia-se a instrução.


Quando o mais bacana seria:
O CONTEXTO PESSOAL INVESTIGATIVO DE CADA DANÇARINA-------------------IMPULSIONARIA AS ESCOLHAS DOS WORKS E DO TIPO DE TREINAMENTO A SER DESENVOLVIDO.

A partir do seu processo de investigação, do tipo de estilo que se tem desenvolvido, vai-se em busca de instruções que contribuam para o contexto pessoal da dançarina.


Em outro campo...
O tipo de instrução ou “treinamento” a ser desenvolvido foi uma grande questão para a dança contemporânea nos anos 90. Qual o tipo de “treinamento” o dançarino contemporâneo precisaria para esse tipo de dança? Mais ou menos assim, vou de feijoada ou manga? Pode-se tudo? Já que a proposta é experimentar e desenvolver um corpo poliglota, capaz de dançar qualquer coisa. Afinal, a dança contemporânea muitas vezes é lida como uma dança sem técnica a priori, sem rotulações.

Depois de muitas discussões e eleger tantas e tantas abordagens corporais que se aproximassem da moldura da dança contemporânea, percebeu-se que nem educação somática, nem pilates, nem capoeira, contact improvisasion, artes circenses, teatro físico, técnica de tecido, aikido, e,e, e... e seriam as instruções apropriadas. Que esse tipo de pensamento implica uma lógica de formulação pautada em escolhas pré-dadas e nem sempre o que vem de fora do processo, por mais que seja bom em termos de instrução, servirá. O mais coerente seria partir do contexto de criação, do processo pessoal de cada dançarino e do criador em questão. Se para obra artística X a idéia norteadora é o corpo e suas articulações, nada mais bacana oferecer para o grupo de dançarinos aulas de educação somática, dança do ventre e pilates. Ou seja, abordagens que partem do contexto investigativo e não do contexto de mercado.

Um exemplo bem conhecido, apesar de não ser de Dança Contemporânea é o tipo de “treinamento” oferecido aos bailarinos de Débora Cocker. Do que aqueles corpos são feitos? De banana, abacaxi ou goiaba? Ou os três juntos? Débora prioriza abordagens que contribuem para o tipo de ideário que compõe a Cia: bailarinos-atletas. Os corpos são feitos de técnicas circenses, pilates, esportes radicais e muito balé. Para cada espetáculo o cardápio de instruções modifica para o tipo de propósito a ser desenvolvido. Não dá para oferecer dança afro quando se pensa em um espetáculo como Cruel (que tem elementos da dança de salão e balé clássico).

O que quero deixar claro é o seguinte: o tipo de instrução a ser escolhida para sua dança deve ser pautada na fome do seu corpo e do seu contexto pessoal e não pelo apelo de mercado. Ainda que a bailarina seja muito boa ou a bola da vez, a bam bam que chegou nas terrinhas. Justamente para que não usemos a lógica de formulação de forma inversa.

Badiaa muito sabiamente se alimentou do balé clássico como uma instrução que se aproximasse do seu propósito de investigação. Utilizou Isadora Duncan com suas echarpes e véus como um material riquíssimo para adoção de adereços na cena. Não optou por Ruth ST Denis ou outro tipo de instrução. Ainda que estivesse a serviço da indústria de entretenimento, soube fazer suas opções. E, nós?

Ingenuamente você pode argumentar: mais é tudo dança do ventre. Não tem problema se hoje vou de folclore ou clássica, não muda muito. O que importa é saber de tudo um pouco. Será?

Saber de tudo o quê? Saber dançar clássica, um bom véu, bastão, espada, dança das velas, dança do castiçal, dança com wings, snujs e,e,e...Quando a pergunta a ser feita é: você tem fome de que? Qual é o seu estilo? O que alimenta sua alma?

Ou em outras situações buscar "reforço" em outras técnicas de dança como o próprio balé, como se essa prática fosse um solucionamento milagroso para suas demandas na dança do ventre. Tipo assim, preciso ter bons giros, vou fazer balé. Como também malhação em execesso para esculpir o corpo e deixá-lo como o principal cartão de visita na dança.
Espero que não entendam minhas colocações como uma negativa. É claro, que sim , o balé ajuda a trabalhar o eixo vertical, sua relação com o movimento de cabeça e foco, importantíssimos para quem quer aprender a girar. Assim como malhar e cuidar do corpo, ajuda a manter o amor próprio fundamental para você se sentir bem independente da aprovação do outro. Mas quero atentar para as demandas que criamos para nossa dança que nem sempre equivalem ao nosso desejo interno. Será que todo mundo precisa girar, girar e girar? Que política de corpo é essa que temos atualmente na dança do ventre que descarta os corpichos do tipo "dove'?
O desejo de consumir as iguarias do mercado pode mascarar a nossa fome essencial. É preciso saber o que de fato nos alimenta.

Eu particularmente nos primeiros anos de dançarina fui uma esfomiada de works. Tenho aqui mais de 100 certificados. Com o tempo a desculpa se tornou no fato de ser professora e que precisava conhecer de “um tudo” para ensinar. Aos poucos aprendi a alimentar minha dança interna. Assumi minha alma egípcia, pop egípcia, moleca e alegre. Assumi que não me apetecia a dança clássica (apesar de ter ensinado e dançado) e que o meu elemento seria muito o véu e nada de snujs. Não tive vergonha de dizer que não me esforcei em me aprimorar nos toques. E toda vez que uma aluna me pedia alguma instrução, indiquei professoras de Salvador.

No finalzinho do ano passado fui ao 10º FIEL (Festival Internacional da Escola Luxor). Mesmo refém daquele esquema de aulas o dia todo e com os mais diversos estilos possíveis, fui realmente FIEL a minha fome. Durante os 10 anos que fui assídua no festival aprendi isso: não comer de tudo um pouco para não ter uma indigestão. Escolhi fazer as aulas de Randa, Yousery e Amir, que já eram demais para um corpo que busca alimentar sua dança interna e não repetir a língua dos outros. Depois de 16 anos de "banquete" escolho muito bem com que tipo de alimento abasteço minha dança e busco escolhas que partam da meu processo de investigação. Posso dizer que, hoje, só danço o que meu corpo pede.

FONTE DE PESQUISA:
[1]http://videos-de-danca-do-ventre.blogspot.com/2009/01/video-de-danca-do-ventre-badia-masabni.html Acesso em 06/02/2010

[2]
http://www.belly-dance.org/badia-masabni.html. Acesso em: 06/02/2010

8 comentários:

  1. A minha "fome" em dança costumava ser um pouco diferente... Geralmente eu me apaixono por alguma coisa e aí só quero saber daquilo, chego a ser obsessiva...

    Quando comecei a fazer aula a minha paixão eram os véus, só queria saber de dança com véus. Quando chegou a hora de aprender dança com taças, fui com o maior desânimo... Aí me surpreendi quando já na primeira aula passei a gostar das taças. Eu era tão "gulosa" em relação a dança com véus e tudo o que dizia respeito, que nem me interessava por mais nada...

    Hoje em dia véus ainda são minha paixão, mas a experiência foi boa pra que eu não me fechasse em uma coisa antes de conhecer outras...

    Agora sobre estilos, como ainda estou no começo, estou procurando conhecer bem antes de "eleger" o(s) meu(s) favorito(s)... Então assisto vídeos da Fifi, vídeos da Saida, vídeos da Carlla Silveira, Lulu Sabongi, Renata Lobo, Jilina... Em todos gosto mais de algumas coisas e menos de outras... Tô fazendo uma verdadeira salada por enquanto, rs...

    Abçs

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  2. Tentei dança indiana, mas não gostei. Tentei tribal, mas não gostei. Tentei dança de salão, mas me faltou um par para poder treinar. Queria Karina Leiro, mas ela não mora mas em Salvador. Sendo assim, fui buscar eixo, posicionamento de braços, elegância e tônus no ballet.
    A minha fome hoje é ter uma boa postura. O ballet chegou pra ocupar esse lugar. E minha fome é de experimentar coisas que não sejam apenas oitos e ondulações. Depois de 6 anos dedicados apenas à dança do ventre, meu corpo precisa de outras texturas para continuar vivo.

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  3. Querida Márcia, descobri teu blog a pouco tempo, e estou amando!!! Meu nome é Lucy, sou bailarina de Novo Hamburgo, RS.

    Esse post me emocionou. Não sei bem o motivo, mas tocou fundo...adorei!

    Minha fome atual é a dança cigana. Comecei esse ano, fiz duas aulas e estou completamente enamorada pela liberdade e emoção que ando sentindo.

    Na dança do ventre, já saí da fase "maratona de workshops", e tento me aprimorar dentro do meu estilo, que é o clássico.

    Beijos!

    Lucy Linck

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  4. Que bom ter com quem dividir nosso apetite! Laurinha é assim mesmo. Quando a gente está no comecinho dessa parceria com a dança, quer experimentar tudo e é assim mesmo! Só podemos fazer escolhas depois de conhecer o que nos move e nos alimenta o espírito! O problema é quando só existe consumo devido ao grande apelo do mercado e nos afastamos do nosso desejo interno. Lory sei que você vai descobrir muitas possibilidades com o balé e ter ganhos além da dança. Eu, mesma, até hoje sinto uma necessidade quase que orgânica de voltar para o balé. ME FAZ MUITA FALTA!!!!! Lucy, seja bem vinda!!!!! Que bom que se emocionou com essa postagem! Olha eu fiz aulas de Dança Cigana com Virginia Diano de floripa e te digo: é uma dança espiritual para mim. Resgata minha cigana Rada e me deixa muito centrada. Uma sensação muito diferente da dança do ventre. Que bom que podemos trocar nossos desejos internos! Beijinhos.

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  5. Gostei muito deste post, aliás, heim Márcia? Todos arrasam sempre. Despertam a curiosidade, inspiram novos assuntose abordam conteúdos importantes.
    Gostaria de dizer que nunca estou satisfeita com a dança, mas minha forma de matar a fome vai pelo caminho oposto, sempre foi, o de interiorizar, canalizar o conhecimento. Apesar de anos de dança, fiz pouquíssimos workshops. Nunca consegui fazer o da Soraya, sempre quis fazer as aulas dela. Assim como tantos outros internacionais e maravilhosos que não pude prestigiar. Fico até com uma ponta de inveja de quem pode, isso é natural, mas às vezes tenho a nítida impressão que a maioria não digere as informações transmitidas pelos "mestres", pois não vejo nenhum resultado do que possa ter sido ensinado em sua dança depois. Ou tentam fazer tudo exatamente como foi dito, sem colocar um pouco de si própria no movimento, sem questionar-se, sem nenhum elemento epistemológico.
    Um pouco frustrada, eu paro e penso. Eu posso ter um contato eficiente que traga esclarecimento para minha dança, muito mais do que ao vivo, através das fontes de pesquisa disponíveis e sem deixar de pensar e analisar muito cada cena, cada gesto, cada olhar. Captar profundamente a emoção do artista, imaginar seu mundo, sua história, a vida sendo vivida e sentida por ele naquele momento, durante aquele movimento que eu tanto gostaria de fazer. Imagino até mesmo sua vida fora dali, sua personalidade, suas atitudes cotidianas, suas frustrações...De repente, com os olhos fechados é como se eu estivesse ali, juntando o quebra cabeça. A figura surge, a ficha cai e a partir dali eu compreendo o por que daquele estilo, daquela necessidade de se expressar daquela forma, naquela nuance da música. Então me sinto segura da importância daquilo que vi, estudei, metabolizei, senti. Descobri coisas que não se ensina em workshop nenhum. Não sei se este tipo de concentração funciona com as outras pessoas, mas acredito que esta alternativa nunca foi por acaso.E acredito na sua eficiência, no caso de estarmos falando do mesmo tipo de dança. Não faria este mesmo tipo de coisa com uma dança que não tenho base nenhuma, tudo tem limite.
    Este relato tem justamente o propósito de justificar que a quantidade de informação, se não bem aproveitada ao tempo necessário, se torna volátil, perde o feeling. Um passo de cada vez, através do caminho que se pode ter.

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  6. Nossa Daiane muito legal a forma como você internaliza seu processo de aprendizado. Sabe amo fazer as aulas de Raqia, Yousry e Randa, porém sei que estão muito além da nossa capacidade de aprendizagem. Talvez pelo tipo de formato que são os festivais da Luxor, muita informação, trocentas pesssoas (neste último 700) e um tipo de comprometimento que não se preocupa em maturar a informação dada, pelo contrário despeja para quem deseja e salve-se quem puder. É impressionante como Yousry tem uma variação ritmica e um detalhamento na movimentação, porém dificílimo para nós "ocidentais" que achatamos os detalhes e pegamos o movimento pelo todo, assim como não temos uma boa formação musical capaz de dançar nas nuances da música egípcia (quem faz work de ritmos ou instrumentos que se salve no Brasil? e reglramente?). O que faço? Assim como muitas vezes já fiz nas coreografias de Randa ou Raqia? Observo, não danço, não faço nenhuma cópia, apenas observo. Páro mesmo!!! Ver a expressividade de Randa e sua respiração é uma outra forma de entender a sua dança, sem se preocupar em copiar a coreografia. Ver como Raqia utiliza as trocas de peso entre as pernas e como usa os pés (sem uma meia ponta alta) me ensina a descobrir de onde vem a sua organicidade e a sua leveza. A mesma coisa para Yousry, sem ter condições de fazer muito do seu detalhamento, páro para observar seu quadril, disfarçado muitas vezes com aquela blusa gigantesca que "esconde" o pulo dco gato. Ou seja, nem sempre um bom work é feito por um processo de aprendizagens via cópia de passos de dança. A dramaticidade de Randa está no seu olhar, que muitas vezes passa desapercebido a quem se interessa pela coreografia. Muito legal saber que temos fomes parecidas e que não nos preocupamos apenas em copiar a coleção de passos. Que bom que essa postagem me ajuda a desmistificar o perfil de muitas dançarinas do ventre. MUITO BOM!!!!!

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  7. Estou em êxtase ainda...Achei que eu estava errada! Achei que era a única a pensar que estaria me agredindo, agredindo minha arte se eu fizesse passos, dançasse músicas e participado de works só porque todo mundo está fazendo...Acho imprescindível para minha arte, para minha dança e para minhas aulas que eu fizesse aquilo que eu considero bonito, certo, interessante e muito legal para mim...Minhas alunas que me desculpem, não vou deixar de ser a Larissa Branquinho nunca...Se não puderem de adaptar ao meu estilo, eu passo vários nomes de amigas professoras para fazerem aulas com estilo diferente! Amo minha liberdade de ser quem sou...Artisticamente falando...Ou não!

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  8. Otimo texto. Eu não pratico mais dança do ventre, mas em meu trabalho com danças vintage eu vou priorizando os estudos, setorizando. Se meu trabalho atual é focado nos anos 20, então mergulho nesse período de cabeça, mas sem deixar de vez por outra, variar o cardápio. E é justamente na hora que a gente dá uma mudada na rotina que novas idéias pra novos trabalhos surgem.

    Pra mim o ideal não é escolher um único foco e abstrair a imensidão de possibilidades que as danças em geral podem nos oferecer, mas saber se programar, definir o que te alimenta nesse período, até pra não comer de tudo, se empanturrar, mas não usufruir dos benefícios que cada dança pode oferecer, não só na questão técnica, mas principalmente no campo das idéias.

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