segunda-feira, 26 de julho de 2010

Miss Rodeio, Xena ou Dançarina do Ventre?



Esse figurino lhe parece familiar? Sutiã, cinturão, mangas? Pode até servir como modelito para a Dança do Ventre, digamos que... para as dançarinas que têm um gosto mais exótico. Contudo a questão que quero pensar aqui, se coloca no trânsito cultural que perpassa por áreas visivelmente distintas (A quem serve? ). Onde a figura erotizada da mulher é o assunto a ser privilegiado. E para isso não tem território particular e nem tão pouco direito de imagem como uma reserva de mercado. Tanto faz ser Miss Rodeio de Jaguariuna, Xena, Dançarina do Ventre ou Dançarina de Forró.

O passaporte em questão é "o corpicho e seu figurino" a serviço de... (podem completar com suas observações) e ponto final. Uma das hipóteses por mim levantada, se estrutura na necessidade de alimentar o mercado com as fantasias femininas que permeiam inicialmente o imaginário masculino: um corpo feminino que serve tanto a figura da dodalisca como também da "Cavaleira do Zodíaco" e que rememora a figura de Xena. Seria um CORPO MUTANTE?
Só falta agora a Miss Jaguariuna nos surpreender dançando um clássico da Dança do Ventre. Ou o mais habitual: a dançarina do ventre reduzir-se a um figurino exótico e garantir-se como uma fantasia masculina. Tornando-se cada vez mais uma tipologia corporal vendável: mutante (a serviço de muitas intenções) sem deixar de ser gostosa.
O que implica numa responsabilidade enorme para quem faz parte do campo da dança do ventre, ou seja, a responsabilidade de descolar-se cada vez mais dessas tipologias mercadológicas e comprometer-se com o objeto em questão: A DANÇA!!!!! A questão aqui imposta passa pela reflexão das escolhas feitas: dança? figurino? tipologia construída? A quem estou servindo? Justamente para que o trânsito entre essa topografia distinta (Oriente, Sertanejo e Mitologia Grega) não se sustente apenas na qualidade do figurino/embalagem do produto-corpo a ser vendido.
E que me leva a pensar em uma cena artística pouco habitual: uma dançarina do ventre se apresentando com um figurino muito simples. Será que assim deixaria de ser refém de uma embalagem? E o público começaria a prestar atenção ao que interessa? Ou os regimes de visibilidade já estão tão contaminados com estes ditames do mercado?
Para se pensar...
FOTOS:
1) Miss Jaguariuna-SP
2) XENA

2 comentários:

  1. Ah, Marcinha! Tirar da cabeça egotrípica de uma dançarina do ventre que a roupa dela deve ser "menos" destaque de escola de samba é enfiar o dedinho profundamente na feridona chamada EGO... Difícil!!!! beijos pra vc!

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  2. Primeiro, vou te falar um pouco de mim: já fiz a experiência de dançar sem o clássico figurino de dança árabe. Pus meu macacão e um lencinho amarrado na cintura. Dancei Farid el Trach. Foi muito confortável. Posso dizer com toda certeza que nunca apresentei uma dança tão colada no meu corpo como essa.
    As vezes o figurino clássico, esses de duas peças, me incomoda. Primeiro pq tem muita exposição do meu corpo e eu morro de vergonha de mostrá-lo. Depois pq aqueles penduricalhos (mesmo quando mínimos e bem presos) não me deixam muito confortável. O resultado é que minha dança tende a ficar mais presa... e pouco aderida em mim mesma.
    Galabias são o meu óasis. Uma forma de ficar dentro do "tema" e me sentir confortável.
    Infelizmente não tenho um termômetro do público tão preciso. Mas percebo que algumas pessoas não esperam ver uma bailarina tão coberta. Minhas tias, que sempre me assistem, reclamam quando danço "cheia de roupa" (galabias).
    Acho que faz parte do imaginário do público ver entrar uma bailarina com a barriguinha à mostra, um véu na mão e muito brilho.
    Em alguma medida, creio ser pertinente quebrar os paradigmas do figurino e se apresentar com algo totalmente inesperado ou simplesmente de macacão ou um vestido. Mas não acredito que essa é a expectativa do público.
    Quanto às cópias dos figurinos de dança do ventre que têm aparecido por aí, elas já não me incomodam. Acho alguma até superiores as que muitas de nós utilizamos. E é isso: se o figurino de dança do ventre desperta no público um imaginário de sensualidade, copia-se a idéia do mesmo para as dançarinas de um grupo de forró, por exemplo, pq é essa a imagem que elas também querem passar.

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