quinta-feira, 26 de agosto de 2010

APRENDENDO COM A FALTA DE CONTROLE...


A gestação me ensina a conviver com os distintos ritmos da natureza. O tempo é outro. Estendido de outro modo, pode-se pensar na lentidão como um um jeito de apresentar-se. O que de imediato pede um ajustamento, justamente para não passar batido o seu legado mais precioso: a imposição de um ritmo próprio.

Afinal, ainda que se saiba que é chegada a hora do parto, e se tenha data prevista e agendamento da maternidade, a hora H é uma incógnita. É determinada por um ritmo interno, próprio, que só seu corpo sabe.

Essa sensação de falta de controle, amplificada pelo desconhecido agrava-se a partir da 37º semana de gestação. Uma vez que, o feto deixa de ser prematuro e a qualquer pode anunciar-se. Nesse sentido, descompassos se estabelecem. Corpo e controle tornam-se parceiros da impertinência.

O corpo segue lento, gozando da sua autonomia e controle próprio, despreocupa-se com o cumprimento do calendário. Se faz no seu tempo, atento as suas especificidades: o ritmo das contrações, o amadurecimento da placenta e as movimentações fetais. Ensina-nos a trafegar quase imune ao imperativo do controle.

Dentro da sua sabedoria, usa a imprevisibilidade como um antídoto para o contexto de controle e antecipações, no qual estamos habitualmente "treinados". Afinal quanto mais planejamos e temos o controle absoluto da situação, garantimos o cumprimento maior do que nos foi programado. Um tipo de desempenho que discursa a tão popular frase: "não deixe para amanhã, o que pode fazer hoje" e no qual encerra o perigo de viver-se sempre refém de um trânsito esvaziado de presentificação.

A escolha de usar a imagem do "caramujo" é uma possibilidade de aprender com outros ritmos. Entender a lentidão, não como um desconforto, e sim como um serviço para experimentar a interiorização da natureza. Voltar-se para suas especificidades e esquecer a cronologia inventada pelo homem. Pois, o que vale no contexto da gestação é o relógio-corpo, seus fluidos como o mover-se de um ponteiro e o batimento fetal como o ritmo do tic-tac.
Outros tempos... outras marcações... ensinamentos preciosos da corporeidade.

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