terça-feira, 17 de agosto de 2010

INVADIDA POR NOSTALGIA, SONHOS, POETIZAS E MÁRTIRES...


Ultimamente tenho tido insônia...Normal nessa fase final de gestação. Acontece que ao invés de contar carneirinhos, sou invadida por memórias, sonhos, poetizas e mártires... Um desejo enorme de guardar momentos bons, sonhos, pessoas e exemplos para minha tutuca que chega. Vou desde as memórias em família, o luar de Arraial D'Ajuda, os poemas de Cecília Meirelles, os escritos de Alice Ruiz, até chegar ao discurso de Martin Luther King. Como se pudesse parar o tempo e guardar preciosidades que o viver oferece...
Para você filha, parte da sabedoria de um grande homem...
"É melhor tentar e falhar que ocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que nada fazer. Eu prefiro caminhar na chuva a, em dias tristes, me esconder em casa. Prefiro ser feliz, embora louco, a viver em conformidade. Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização. Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira. O ódio paralisa a vida; o amor a desata. O ódio confunde a vida; o amor a harmoniza. O ódio escurece a vida; o amor a ilumina. O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo..."(Martin Luther King)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

EU QUERO UMA CASA NO CAMPO...


Passeando no blog - Menina de Óculos (http://meninadeoculos.blogspot.com/), me deparo com uma postagem que me identifico de cara. Na qual a escritora de maneira muito afirmativa deseja ser doutora, levita e ter uma casa no campo. O que fez meu ego berrar imediatamente: TAMBÉM QUERO!!!!
Engraçado isso, agora me caí a ficha os motivos pelos quais me graduei em Medicina Veterinária (?????). Percebo que não era somente um AMOR INCONDICIONAL pelos animais, mas muito da vontade de ter uma casinha no campo. De modo que me pergunto agora, o motivo pelo qual esse desejo retorna? Ressuscitou , foi? Será que tem haver com o instinto maternal? Oxe... se a Veterinária ficou lá atrás.
Enfim... Acolho o desejo. E assim como minha companheira blogueira, também pretendo finalizar o doutorado - tornar-me doutora e, e, e...
... ter uma casa no campo, onde eu possa aninhar minha família, marido e filha, de um modo mais humanizado, MENOS CAPITALISTA e com a consciência de que somos um com o planeta;
... ter uma casa no campo para aprender com o noção do tempo, os cheiros e os gostos;
... ter uma casa no campo, onde eu possa falar com DEUS e contar as estrelas quando a noite chegar;
... ter uma casa no campo para dançar com os pés descalços, tendo apenas como testemunha a lua cheia e o Senhor do Universo;
... ter uma casa no campo para colher o alimento na minha horta e aprender com os ciclos da natureza;
Será possível? Talvez, não. Que a casa no campo, seja uma boa metáfora no meio da selva de pedra. Uma tentativa de revisitar os desejos mais íntimos - o campo dos sonhos e re-direcionar ações.
Para finalizar, canto:
"Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal"
E você, qual é a sua casa no campo? O seu desejo mais íntimo?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SOHEIR ZAKI: A POÉTICA SE FAZ


Retomo a análise dos vídeos. Para quem chega agora no blog, explico que comecei a meter a mão nesse canteiro de obras com o vídeo da Fifi Abdoo (quem se interessa, veja nas postagens antigas). Nesse momento, tento cumprir o prometido: debruçar-me em Soheir Zaki. E de cara, explico a escolha do Vídeo. Em 1º lugar é apenas a primeira parte de uma rotina, dividida em 4 partes. Mas me detenho apenas a esta, justamente por trazer elementos indispensáveis a minha análise.
Vamos lá...
Inicialmente reconheço que a escolha foi proposital e não uma escolha por afinidade, como assim? Pois preferencialmente me encanto com Soheir dançando um Tacksin e em edições pequenas. Contudo o que chama atenção é o paradoxo entre a qualidade de movimentação escolhida por Soheir e o uso do espaço. Se vocês perceberem vejam que ela entra se apresentando com um véu, comum na entrada em cena, mas com a evolução da música, ainda assim, opta em manter-se com deslocamentos mínimos. Para os dias atuais, digamos que causa um certo estranhamento.
Se chegarem até o ponto 3:13 do vídeo, terão uma dimensão do tamanho do palco e da disposição dos músicos. De modo que é estranho percebe-lo sem uma ocupação espacial amplificada, preenchido com deslocamentos maiores e a tendência de Soheir manter-se centralizada e próxima a sua orquestra. Devo confessar que minha coleção de informação tão habituada a arabesques, piruetas, giros e movimentações de quadril em deslocamento no espaço, me deixou mal acostumada com esse tipo de escolhas.
Mas vamos em frente...
Por outro lado perecebo que preciso reconhecer outros ganhos. E vou me dando conta que Soheir nada mais é que um antídoto para os regimes de visibilidades que estamos tão acostumadas. Pois a nossa acuidade visual amplificou-se e pede de alguma forma uma hemorragia de informações em milésimos de segundos. Basta pensarmos no que a disposição de uma tela de computador causou a nossa cognição (?). Afinal, hoje somos capazes de estar com muitas "janelinhas abertas", sejam estas MSN, Orkut, Skype, Facebbok, etc. ao mesmo tempo em que digitamos um texto, atendemos ao celular e prestamos atenção ao nosso entorno.
O que explica o modo como meu corpo (entendido como mente e corpo inseparáveis) entende como um tédio a economia de movimentos de Soheir. Afinal os meus olhos pedem uma avalanche de informações, como se fossem as janelinhas abertas na frente do computador. Juro, que ao mesmo tempo que este corpo dançava no vídeo, o meu sugeria passos e uma outra organização espacial. Demonstrando certa intolerância em aceitar escolhas outras, uma vez que estamos e somos contaminados por um HIPERTROFIA do mais, cada vez mais e mais.
Retornando ao vídeo podemos dizer que a economia de movimentos e o MINIMALISMO como uma qualidade da dança, permite que SOHEIR convide o público para o seu espaço cênico. E de forma muito pessoal converte o VIRTUOSISMO em uma POÉTICA que não somos mais capazes de indentificar em nossos dias. Talvez por isso, algumas pessoas não tenham mais paciência ou gosto pelas antigas bailarinas egípcias, o que favorece certo desprestígio do passado.
Entretanto podemos aqui dizer que é no minimalismo do movimento, na forma como Soheir executa um Shimmie em "L" (ou outro movimento aperesentado), de modo tão localizado e claro, que se estabelece uma outra noção de espaço. É a partir dessa observação, que podemos dizer que o PALCO se faz no corpo e é no corpo de Soheir que os movimentos acontecem. Como se, de fato, deslocamentos/escolhas acontecessem em outro lugar - NO CORPO e não apenas nos limites da cena: boca de cena, meio do palco, extremidades, etc. O que nos permite dizer o quanto esse corpo-palco nos apresenta apropriação técnica, ao mesmo tempo que simplicidade e singeleza (entendam minimalismo/economia como substratos para a simplicidade e a singeleza apresentada).
Continuando com essa idéia acima, podemos dizer que o MINIMALISMO não é assunto novo para Soheir, acompanha-a em muitos outros vídeos e se torna um TRAÇO PESSOAL que se corporifica em outras possibilidades. Abre portas para uma poética própria, que privilegia a leitura musical no corpo, como se este fosse uma partitura musical. Basta adiantar o vídeo para o ponto 3:16 que veremos como seu corpo se traduz ao som do acordeon e mais a frente nas pequenas marcações. Sem que fosse preciso grandes efeitos ou algo mais além do necessário para este corpo fazer-se música. É justamente, nessa particularidade, que percebemos a poética desse corpo, que faz da sua destreza/simplicidade uma escuta musical.
Soheir nos mostra um refinamento que não reconhecemos hoje, uma vez que a tendência de grandes efeitos coreográficos fez-nos padecer na ignorância de acharmos o virtuosismo como a garantia de uma boa apresentação.
Que possamos aprender sobre o quê de fato se faz preciso dar visibilidade quando se dança - outros regimes no corpo e não apenas no entorno dele (palco? roupa? efeitos musicais? iluminação? maquiagem? adereços?). Reapropriações/conduções que pedem muito estudo e trabalho em sala de aula. Talvez nessa direção encontremos um solucionamento capaz de nos deslocar da HIPERTROFIA DOS SENTIDOS, que de algum modo também embutrece nossa percepção e dificulta experimentar regimes guiados por singeleza e simplicidade. Afinal por onde andará nossa percepção fina e o gosto pelo que amparentemente não está em negrito, contudo está ali, de forma mais sútil, poeticamente falando ???!!!!!!
Quem gostou, pode me indicar outros vídeos de outras bailarinas (os)? Aceito sugestões.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

IMPRESSÕES CAPTURADAS...


"Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio" (Clarice Lispector)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BENEFÍCIOS NA DANÇA DO VENTRE: UMA LISTA DE IN-VERDADES?


Quem não se lembra de uma lista de benefícios agregada à prática da dança do ventre? Como se fosse uma bula indicativa a informar tantos ganhos milagrosos. E que de alguma forma é incorporado ao discurso professoral na maioria das vezes que uma aluna se aproxima com a seguinte pergunta: quais os benefícios da dança?

VAMOS PARA UMA DAS POSSÍVEIS LISTINHAS...


 Desenvolve a auto-estima;
 Estimula a memória, a concentração e a atenção;
 Aumenta a confiança no seu potencial individual;
 Resgata a feminilidade;
 Ativa a circulação, aumenta os reflexos e alivia as tensões;
 Aumenta a flexibilidade e alongamento;
 Auxilia em problemas menstruais, hormonais e partos, diminuindo cólicas, equilibrando as funções sexuais e facilitando contrações e dilatações;
 Trabalha músculos, enrijecendo e tonificando;
 Atua diretamente no centro de energia do corpo, que se encontra no ventre, distribuindo a mesma de forma equilibrada.

E blá, blá, blá, blá...

Eu, particularmente adoro uma bula de remédio e me sinto muito atraída por indicativos como esses. Mas nunca pensei em reproduzir algum tipo de discurso apoiado nesses benefícios. Até porque podem se constituir in-verdades a depender de cada corpo e contexto de prática. Afinal descritos assim de forma genérica, não passam de um efeito em “suspensão” que pode ou não acontecer no corpicho. Quem saberá? Como acontecerá? Lembro-me que sempre dizia o seguinte: “na literatura está descrito que, já no meu corpo o que percebo é...”.

Assim, ao invés de reproduzir algo fora do meu corpo, sempre busquei estar atenta ao que nele acontecia. Nada mais justo usar um discurso que se apóia no conhecimento produzido no corpo e não em meia dúzia de in-verdades fora dele. (Aqui, cabe a explicação da escolha do termo in-verdade. Ou seja, uma grafia que já indica uma ambivalência contida em toda verdade enunciada. Afinal quem hoje sustenta algo como verdade absoluta? A depender do contexto, a verdade pode ser relativizada e tornar-se distinta ao que se pretendia).

Não quero com essa postagem rastrear os mitos difundidos. Fazer uma comparação prática do que a literatura descreve. Nunca fiz antes, qual o motivo de desmontar esses fetiches agora? Mas devo confessar que com a gravidez, fiquei muito curiosa com essa associação: dança do ventre x gestação. Assim como as promessas difundidas no trabalho de parto. E cada vez que vai chegando mais pertinho do nascimento da minha filha, vou me tornando meio “São Tomé de saia”, ou melhor, “de barrigão”, quero mais ver para crer. Afinal eu sempre ouvi casos de dançarinas que tiveram seus bebês como num passe de mágica, tipo: efeito pó de pirlim pim pim, olha o bebê ai gente. Chegando ao mundo escorregando igual a quiabo! Quem nunca ouviu coisas como essa?

Em meu caso, devo esperar para crer. Ainda que não seja possível, visto que por razões médicas fiz a opção de uma cesariana (com toda minha indignação!!!!). Mas quem sabe não será o meu corpicho uma prova viva de que a dança, de fato, auxilia o trabalho de parto e Maria Elisa nasça escorregando? Será?

Mas devo partilhar um ganho que não é fetiche. E se deve muito ao trabalho de fortalecimento da musculatura da lombar (quadrado lombar) no período em que me dediquei exclusivamente à dança do ventre. Pois percebi que toda a minha preocupação com o encaixe pélvico na hora da execução dos movimentos e o uso adequado da musculatura abdominal não foi em vão. Foi um serviço ao meu bem estar postural na gestação. Afinal mal tive dor lombar e estou sustentando 15 kilos a mais (minha filha é enormeeeeeeeeeeee) de forma bem suportável.

Parece que a queixa mais recorrente das gestantes: DOR LOMBAR, não encontrou abrigo no meu corpinho. Ainda que me sinta uma pata ambulante, com todo o meu eixo deslocado para frente do corpo, percebo que meu corpo guarda uma memória adquirida com a dança. E vez ou outra se auto-corrige, se alinha, se refaz. Sinceramente, só tive desconforto na lombar na época que estava finalizando o semestre do Doutorado em Sampa, justamente pelas horas destinadas em frente do computador. Entretanto agora, nessa fase final, com a sobrecarga de peso, que tenderia agravar a lombalgia, o que sinto mais são as cotoveladas e pontapés de Maria Elisa e uma leve ardor nas costelas.

De modo que, resolvi deixar esse registro aqui e escrever que o fortalecimento da musculatura lombar e a memória do alinhamento postural, é sim um ganho na dança do ventre, ainda que seu corpo passe por transformações outras e desvie do padrão adquirido com a prática. Acreditem! Esse benefício no meu corpicho se configura uma verdade construída e não descrita apenas na literatura. Por isso meninas, vamos encaixar o quadril e dançar com o abdômen para dentro. Não se esqueçam: mais a frente, uma futura gestação vai “lhe cobrar” esse ganho!

OBS: Valeu a minha paranóia de dançar com o quadril encaixado. Lembram da minha "bronca" quando percebia um bumbum desencaixado e a barriga estufada para fora? Não foi em vão....

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Miss Rodeio, Xena ou Dançarina do Ventre?



Esse figurino lhe parece familiar? Sutiã, cinturão, mangas? Pode até servir como modelito para a Dança do Ventre, digamos que... para as dançarinas que têm um gosto mais exótico. Contudo a questão que quero pensar aqui, se coloca no trânsito cultural que perpassa por áreas visivelmente distintas (A quem serve? ). Onde a figura erotizada da mulher é o assunto a ser privilegiado. E para isso não tem território particular e nem tão pouco direito de imagem como uma reserva de mercado. Tanto faz ser Miss Rodeio de Jaguariuna, Xena, Dançarina do Ventre ou Dançarina de Forró.

O passaporte em questão é "o corpicho e seu figurino" a serviço de... (podem completar com suas observações) e ponto final. Uma das hipóteses por mim levantada, se estrutura na necessidade de alimentar o mercado com as fantasias femininas que permeiam inicialmente o imaginário masculino: um corpo feminino que serve tanto a figura da dodalisca como também da "Cavaleira do Zodíaco" e que rememora a figura de Xena. Seria um CORPO MUTANTE?
Só falta agora a Miss Jaguariuna nos surpreender dançando um clássico da Dança do Ventre. Ou o mais habitual: a dançarina do ventre reduzir-se a um figurino exótico e garantir-se como uma fantasia masculina. Tornando-se cada vez mais uma tipologia corporal vendável: mutante (a serviço de muitas intenções) sem deixar de ser gostosa.
O que implica numa responsabilidade enorme para quem faz parte do campo da dança do ventre, ou seja, a responsabilidade de descolar-se cada vez mais dessas tipologias mercadológicas e comprometer-se com o objeto em questão: A DANÇA!!!!! A questão aqui imposta passa pela reflexão das escolhas feitas: dança? figurino? tipologia construída? A quem estou servindo? Justamente para que o trânsito entre essa topografia distinta (Oriente, Sertanejo e Mitologia Grega) não se sustente apenas na qualidade do figurino/embalagem do produto-corpo a ser vendido.
E que me leva a pensar em uma cena artística pouco habitual: uma dançarina do ventre se apresentando com um figurino muito simples. Será que assim deixaria de ser refém de uma embalagem? E o público começaria a prestar atenção ao que interessa? Ou os regimes de visibilidade já estão tão contaminados com estes ditames do mercado?
Para se pensar...
FOTOS:
1) Miss Jaguariuna-SP
2) XENA

domingo, 25 de julho de 2010

SOBRE AMOR, ROSAS E ESPINHOS...


SOBRE O AMOR, ROSAS E ESPINHOS...Amor que é amor dura a vida inteira. Se não durou é porque nunca foi amor.

O amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até às traições. Sem perdão não há amor. Diga-me quem você mais perdoou na vida, e eu então saberei dizer quem você mais amou.

O amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão. Você o percebe no momento em que o outro fez tudo errado, e mesmo assim você olha nos olhos dele e diz: "Mesmo fazendo tudo errado eu não sei viver sem você. Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto."O amor nos possibilita enxergar lugares do nosso coração que sozinhos jamais poderíamos enxergar.

O poeta soube traduzir bem quando disse: "Se eu não te amasse tanto assim, talvez perdesse os sonhos dentro de mim e vivesse na escuridão. Se eu não te amasse tanto assim talvez não visse flores por onde eu vi, dentro do meu coração!"Bonito isso. Enxergar sonhos que antes eu não saberia ver sozinho. Enxergar só porque o outro me emprestou os olhos , socorreu-me em minha cegueira. Eu possuia e não sabia. O outro me apontou, me deu a chave, me entregou a senha.

Coisas que Jesus fazia o tempo todo. Apontava jardins secretos em aparentes desertos.Na aridez do coração de Madalena, Jesus encontrou orquídeas preciosas. Fez vê-las e chamou a atenção para a necessidade de cultivá-las.Fico pensando que evangelizar talvez seja isso: descobrir jardins em lugares que consideramos impróprios.

Os jardineiros sabem disso. Amam as flores e por isso cuidam de cada detalhe, porque sabem que não há amor fora da experiência do cuidado. A cada dia, o jardineiro perdoa as suas roseiras. Sabe identificar que a ausência de flores não significa a morte absoluta, mas o repouso do preparo. Quem não souber viver o silêncio da preparação não terá o que florir depois...

Precisamos aprender isso. Olhar para aquele que nos magoou, e descobrir que as roseiras não dão flores fora do tempo, nem tampouco fora do cultivo.Se não há flores, talvez seja porque ainda não tenha chegado a hora de florir. Cada roseira tem seu estatuto, suas regras...Se não há flores, talvez seja porque até então ninguém tenha dado a atenção necessária para o cultivo daquela roseira.

A vida requer cuidado. Os amores também. Flores e espinhos são belezas que se dão juntas. Não queira uma só. Elas não sabem viver sozinhas...Quem quiser levar a rosa para sua vida, terá que saber que com ela vão inúmeros espinhos.Mas não se preocupe. A beleza da rosa vale o incômodo dos espinhos...
O que destaco aqui é a seguinte frase: "Quem não souber viver o silêncio da preparação não terá o que florir depois". É o que mais busco ultimamente: silêncio, acolhimento, tranquilidade... interiorização... para chegada de minha filha. Minha rosa. Chega de disperção. Pois vivemos num mundo que o tempo todo somos levados a disfocar, a dispersar... a se stressar com pequenas coisas e com isso, deixar de enxergar os jardins secretos no deserto. E você, o que mais gostou?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

QUAL O FETICHE MAIS HABITUAL DO BALÉ CLÁSSICO?




Inspirada no post intitulado como – A dança do ventre. Cadê o ventre? -publicado pela minha amiga belly dance Lorena no seu Blog (An)danças de Lory (http://andancasdelory.wordpress.com/), arrisquei-me a refletir na questão-título acima.

Uma tarefa que me fez revisitar meus 13 anos de balé clássico e tirar do baú sonhos, moldes, espetáculos, falas, etc. que moldaram minha menina-bailarina. E desde que me fiz gente no balé clássico, SEMPRE, ouvi a seguinte frase: “o balé é a base de qualquer dança”. Assim como outras na mesma direção, como por exemplo: “quem faz balé pode dançar qualquer coisa”. De modo que cresci na dança com esse fetiche, como se tivesse em mãos um passaporte poderoso para o trânsito no universo da dança.

Entretanto, na prática a situação foi bem diferente, a começar pelo meu ingresso em 1995 na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia. Onde de imediato foi desmontado esse fetiche, nas aulas de dança moderna. Nas quais a necessidade de estabelecer outro tipo de experimentação com o nível baixo, por exemplo, com as quedas e recuperações, me mostrou o quanto meu corpo não tinha disposição para tal aventura. Afinal foi montado em cima da meia-ponta ou sapatilha de ponta, dentro de uma verticalidade imposta na dança clássica. Devo confessar que sofri muito para dialogar com outras linguagens e permitir que meu corpo fosse aberto a outras línguas, sem a hegemonia do balé.

De modo que ainda fico a me perguntar o que sustenta tal fetiche? Se hoje temos uma profusão de outras experimentações na dança, abertas a diversas instruções que não sejam as hegemônicas? Uma vez que se busca localizar o processo de conhecimento e experimentação a partir da proposta artística de cada dançarino-criador-interprete, sem a imposição de senhas (técnicas pré-dadas). Tem-se uma tendência de mesclas artísticas ou não. Com as aproximações/fusões entre as instruções da dança a educação somática, técnicas circenses, lutas marciais, práticas esportivas, entre tantas outras.

O que importa é pensar qual a demanda do processo criativo? Que línguas o corpo precisa falar para dar conta da obra. Afinal cada obra fala por si. Justamente pela “necessidade” de referências situadas no contexto de criação da obra. Assim, se a lógica compositiva de determinada obra se mescla com uma tônica circense, que tipo de instrução cabe na composição? Caberia, de fato, o balé clássico? Ou a capoeira? Ou a técnica de tecido? Ou...

Qual é o ponto então?

Que não dá mais para universalizar as instruções da dança como verdades absolutas. Ainda mais quando se compreende o corpo como instância indissociável do seu ambiente. De modo que é preciso pensar o que o corpo faz com as informações que ele tem acesso? E que talvez, nem todas sejam apropriadas para o processo criativo na dança em curso.

Inquietações que me fazem refletir porque tal fetiche encontra abrigo tão estável na dança do ventre. Migração que não vem de agora e sim do período do Cabaré de madame Badiaa (ver outra postagem nesse blog– Você tem fome de quê? Em 06 de fevereiro de 2010). Que de vez em quando retorna ao mercado como uma propaganda efetiva que reforça o discurso GENERALISTA, de que o balé clássico é capaz de dar grandes contribuições para a dança do ventre. Quer uma prova? Basta ver a quantidade de cursos que surgiram nesse sentido. Lá vai... “CURSO INTENSIVO DE BALÉ CLÁSSICO PARA DANÇA DO VENTRE” (Estudo de aprimoramento de técnicas clássicas aplicadas na dança do ventre. Com os seguintes temas abordados: giros, saltos, arabesques, cambrés, resistências e execução dos passos, chasé como forma de deslocamento, etc.)

Não quero, aqui, fazer um des-serviço do balé clássico a dança do ventre. Afinal sabemos e o meu corpicho sabe, que a minha linda meia-ponta foi uma habilidade adquirida no balé clássico, assim como minha postura, facilidade para os giros e belas terminações, como as dos braços e pés (quer coisa mais feia que um pé torto na dança?). Mas... É preciso muita calma nessa hora. Pois assim como tive ganhos situados com a técnica do balé clássico e digamos essa constatação referenda o curso acima, como uma possibilidade de contribuições específicas, é preciso pontuar que também tive perdas. Ora, a primeira se configura em relação à força de gravidade (peso) necessária para execução da dança folclórica. Como executar um Baladi, que se estabelece pela relação de pertença com a terra e se utiliza do contato/peso nos pés, tendo como informação a leveza do balé? Assim como esta, muitas outras perdas somam à lista (dar uma olhadinha nas gravuras postadas a cima).

Essa breve descrição acima serve para localizar que tipo de instrução deve-se entrar em contato. E que serviço presta? Para não cair na cilada que o corpo precisa ser poliglota, ou seja, falar TODAS as línguas. E que qualquer língua/informação é bem-vinda.

É preciso aceitar o fato de que certos fetiches não são mais pertinentes – e, por extensão, demarcar quais deles são considerados escolhas/línguas/informações pelos corpos que dançam. Para quem sabe, com esse tipo de entendimento, se possa responder de forma mais tranqüila que tipo de informação está no corpo que o permitiu dançar daquele jeito? Com o intuito de desmontar discursos hierárquicos e universais, que tendem a privilegiar determinadas instruções a despeito de outras.