quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...


Ao rememorar os anos de 2007 e 2008 (principalmente o ano de 2007), nos quais me tornei mestranda do Programa de Pós-Graduação em Dança/Escola de Dança/Universidade Federal da Bahia, penso que deveria ter escrito um diário de impressões pessoais. Afinal, o mestrado é literalmente um mix de suicídio diário com proclamações de ressurreição. Morre-se e vive-se todos os dias. Enquanto pessoa, SER HUMANO, mesmo. E o que fica de mais bacana, é sobreviver à dilaceração emocional e negociar com as perdas e ganhos diários.

Perdi a conta de quantas vezes reli Foucault, Pelbart, Aganbem, Zizek, entre outros cientistas políticos, na tentativa de acessar algumas informações e conexões ali possíveis. Rabiscava os livros (sorte que todos eram meus) e criava um sistema de anotação quase caótico, que me ajudasse a entender o que ali estava escrito. Ahhh... Como eu tinha vontade de morrer ao ler aqueles parágrafos como se fossem um romance ou a revista boa forma. Palvras.PALAVRAS.PAlaVRAS.paLAVRas. Uma violência a minha identidade NERD. Meu estômago ardia, minhas pernas dançavam um balé inquietante... Sem falar, na vontade de fazer tudo: ver televisão (coisa que não me apetece muito), faxina de casa, assaltar a geladeira, etc. etc. etc. menos reler o texto novamente. Porém um anjo bom, compadecido pela tamanha crueldade sussurrava: calma... olha os caras que você chamou para conversar...a sua coleção de informação ainda está num processo de refinamento... calma... dê um desconto... tempo...quando você menos perceber... o texto ficará familiar. E assim foi. Tanto que virei compradora compulsiva dos livros de Foucault, Aganbem e Zizek. De Aganbem, por exemplo, tenho todos publicados no Brasil e simbolicamente equivale a um bem precioso. Agora me pergunte: leu todos os livros comprados? – Claro que não! Mas estão aqui à espera... como tantos outros desejos.

Entretanto, além dos suicídios teóricos, existe também o outro extremo: o gozo intelectual. Hum... Sem comparação com Capuccino Kopenhagen, Alfajor Argentino Havana, a maniçoba de mainha ou o acarajé de Jandira... prefiro Damásio, minha querida Helena Katz, Greiner, Lakoff e Maturana e, saborear aquela sensação de que se fala a mesma língua. Que realmente dá para chamar todos para um delicioso bate papo. Um banquete teórico! Era a glória! O céu! Cabiam todos na minha pesquisa. Redondamente falando. Argumento fundamentado, hipótese comprovada e a identidade NERD reinante. Eu, simplesmente, um gênio! Capaz de chegar àquelas conexões. Então... qual o gosto mesmo do Capuccino Kopenhagen? Sepultei todos os sabores mundanos e quase fiquei assexual. Mas esse gozo intelectual durava até a próxima orientação, na qual recebia a indicação (gentilmente falando) de que era preciso fazer recortes, focar na pesquisa e que estava vetado parte dos cientistas cognitivos convidados, afinal do que mesmo estava tratando?

Acredito que essa experiência é lugar comum a qualquer aluno de pós-graduação ou que está em trabalho de conclusão de curso. O que não me faz nenhuma heroína. Porém, com as ressalvas da gastrite, 6 kilos acima do peso, queda de cabelo, etc., posso dizer que faria tudo outra vez e me descabelaria outras quinhentas vezes, só pelo felicidade de reler a dissertação (escrita em co-autoria com a orientadora) e me deflagrar com a seguinte questão: fui eu mesmo que escrevi isso? Diante da excelência do texto construído. E por fim... Perceber que só um ser que se permite morrer e viver diariamente, academicamente falando, é capaz produzir conhecimento. Haja CORAGEM! PAIXÃO! DETERMINAÇÃO e FÉ EM DEUS!
OBS: A dissertação teve indicação unânime para publicação. A indicação de publicação foi apontada desde a época da qualificação e reiterada no dia da defesa.

Um comentário:

  1. Marcinha, sua veia poética, sua sensibilidade e determinação, me deixam feliz e estimulada, com vontade de seguir a minha luta!
    Muitos beijos!

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