terça-feira, 1 de setembro de 2009

DISCURSO PARANINFA - CURSO LICENCIATURA EM DANÇA 2009.1

Excelentíssima Diretora da Escola de Dança, Profª Doutora Dulce Aquino, Prezados Professores e Funcionários Homenageados, em nome da qual saúdo os demais membros da mesa, Srs. Pais, familiares e demais convidados, Meus prezados afilhados formandos da turma de 2009.1.

Boa noite!

Quero iniciar, agradecendo, uma vez mais, o carinho com que vocês, meus alunos, me distinguem em uma homenagem tão bonita quanto essa – ser paraninfa da turma. Não dá para descrever com palavras a alegria que senti quando Roseli me trouxe a notícia da escolha do meu nome, e a emoção que sinto nesse momento. Quero, de antemão, pedir licença para compartilhar essa homenagem com meus colegas professores que, com igual disponibilidade e afeto, dedicaram-se à formação de todos vocês.

Quando pensei em escrever esse discurso, perguntei-me primeiramente quais os motivos da minha escolha. Depois, o que dizer nesse momento tão importante e de que forma eu deveria dirigir-me a vocês. Pensei como ponto de partida, refletir a dança enquanto campo de conhecimento e no modo como esse entendimento hoje redesenha o campo de atuação do graduado em dança. Mas cheguei à conclusão de que deveria partir do afeto que nos aproxima e me fez estar aqui essa noite, falando para cada um de vocês - Cristiane, Daniela, Ítalo, Maurício, Mila Rafaela, Norma, Rita, Roseli e Viviane. Afinal, a convivência que tivemos nos dois anos em que fui profa. substituta da escola de dança, possibilitou um espelhamento de sentimentos, pensamentos e atos, que nos fizeram cúmplices das nossas escolhas. Seja a minha de seguir a carreira acadêmica (hoje no Doutorado de Comunicação e Semiótica da PUC-SP), ou a de vocês, a partir dessa nova etapa de vida.

Nossa cumplicidade! (pausa), que me faz entender a minha escolha como uma a escolha de um percurso, não a escolha pessoal da professora- amiga Márcia Mignac, e sim o interesse de vocês em privilegiar um percurso que teve como eixo central a Universidade. Ou seja, o modo como alguém se relaciona com o conhecimento coletivamente partilhado, tornando este indispensável e gerador de possibilidades e co-autorias.

Diante disso, começarei a pontuar trilhas do meu percurso, no sentido de compartilhar experiências, para que nesse início de uma nova etapa de suas vidas, vocês possam refletir a respeito.

Como é do conhecimento de muitos de vocês, eu sou uma cria da Universidade Federal da Bahia. Aliás, todos nós somos! Ex-Médica Veterinária que movida por sonhos (guardem essa palavra – SONHOS), abandona a profissão para trilhar um percurso dançante. Durante os 15 anos que estive abrigada na Escola de Dança, criei diversas estratégias de continuidade e sobrevivência: graduei-me em Dança, fui professora de dança do ventre dos cursos livres, desenvolvi projetos de extensão, ministrei aulas na graduação e obtive o título de Mestre no Programa de Pós- Graduação em Dança.

Escolhas, nas quais, a Universidade foi se mostrando indispensável para mim e para minha carreira profissional.

Veja bem, aqui, temos uma das possíveis maneiras de se relacionar com a Universidade, e que de alguma forma interessa a todos nós. Pois suscita vários questionamentos. Afinal, o que é que a gente faz ao sair da Universidade? Como dar sentido ao conhecimento co-produzido? Volta para a Universidade? Todo mundo tem que voltar para a Universidade? Não. Nem todo mundo precisa voltar para a Universidade. Existem médicos, engenheiros, artistas... que são encaminhados imediatamente ao mercado de trabalho, e se tratando especificamente, da nossa classe – dançarinos, intérpretes, criadores, professores de dança - onde a profissionalização acontece em paralelo com a formação acadêmica, muitos de vocês já se encontram inseridos em escolas , ONGS, pontos de cultura, coletivos de dança ou trilham uma carreira artística independente.

O que importa é perceber o seu papel enquanto produtor e articulador do conhecimento. Onde quer que você se encontre: nas micro-ações do cotidiano, seja no mercado de trabalho ou na Academia. Que de fato, você faz parte da relação de co-dependência entre os que estão dentro e fora da universidade. Pois, os que estão dentro abastecem os que estão fora. E os que estão fora, abastecem os que estão dentro. Na verdade, não existe essa linha limítrofe entre o dentro e o fora. São processos que se constituem. Está tudo misturado.

O que implica dizer, que TODOS NÓS SOMOS ‘RESPONSÁVEIS’ pelo tipo de entendimento/pensamento abrigado no nome DANÇA. Ainda mais agora, que unimos “esforços”, artísticos, políticos e epistemológicos para fazer valer a dança enquanto campo de conhecimento.

Queridos, vamos carregar a universidade para o resto da vida. A coleção de informações que acessamos aqui é/está no corpo e continua operando no corpo. Não cessa ao sair da Universidade. Pelo contrário, suscita inquietações, proposições, relocações e atuações. A Universidade será uma das nossas referências, um ponto de partida, para nosso modo de atuar na sociedade.

E, cabe a cada um de nós descobrir, inventar, re-inventar nossos modos de funcionamento.

Eu, realmente acredito que em algum momento da vida de vocês, talvez entendam o diferencial de ter sido graduado (a) na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia. Ainda que agora junto com o sentimento de dever cumprido, venham às críticas ao curso, frustrações pessoais e o enfrentamento das situações-limite próprias de quem escolhe a vida artística enquanto carreira profissional. Mas acreditem, hoje nós fazemos parte da ELITE da dança no país e a referência da nossa escola enquanto instituição pioneira – com a 1ª Graduação e Pós-Graduação de Dança no país tem um grande valor, peso, no meio acadêmico. Falo assim, porque eu mesma, nesse trânsito entre o eixo nordeste-sudeste, pude perceber o quanto fazer parte dessa instituição é valorado pelos profissionais da dança de outros estados.

Para tentar finalizar a nossa conversa, continuo com um precioso conselho: nunca deixem de sonhar. Lembram que pedi no início da minha fala para guardar a palavra sonhos? Pois, bem. Seria impossível chegar até aqui, sem eles. E, eu digo mais, será impossível dar continuidade a essa etapa da formação de vocês sem a ignição do sonho para apontar outros percursos e possibilidades. De acordo com Paulo Freire, na Pedagogia dos Sonhos Possíveis, “sonhar é imaginar horizontes de possibilidades” e “o impossível se faz transitório na medida em que assumimos a co-autoria dos sonhos possíveis”. Então, queridos alunos, assumam seus sonhos! Eu assumi os meus. Quando entrei na graduação de dança em 1995, eu disse a mim mesmo: um dia vou ser professora da universidade. Hoje, vocês realizam o sonho da colação de grau. Coincidências a parte, estou aqui com vocês, celebrando os nossos sonhos.

Aos queridos pais, quero agradecer por apostarem nos sonhos dos seus filhos, assim como os meus fizeram um dia.

No mais gostaria de dizer que estarei aqui, de braços abertos, com muita satisfação e alegria para recebê-los, seja para ajudá-los em alguma coisa (Normicha essa semana saí o nosso encontro) ou mesmo para conversar zilhões de coisas, pois conversa é que não falta!

E por fim, pedir que não se esqueçam que Deus é fiel. Caminhem na perspectiva divina, que Deus fará prevalecer os seus sonhos.

Um forte abraço a todos e muito obrigada!

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