quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BENEFÍCIOS NA DANÇA DO VENTRE: UMA LISTA DE IN-VERDADES?


Quem não se lembra de uma lista de benefícios agregada à prática da dança do ventre? Como se fosse uma bula indicativa a informar tantos ganhos milagrosos. E que de alguma forma é incorporado ao discurso professoral na maioria das vezes que uma aluna se aproxima com a seguinte pergunta: quais os benefícios da dança?

VAMOS PARA UMA DAS POSSÍVEIS LISTINHAS...


 Desenvolve a auto-estima;
 Estimula a memória, a concentração e a atenção;
 Aumenta a confiança no seu potencial individual;
 Resgata a feminilidade;
 Ativa a circulação, aumenta os reflexos e alivia as tensões;
 Aumenta a flexibilidade e alongamento;
 Auxilia em problemas menstruais, hormonais e partos, diminuindo cólicas, equilibrando as funções sexuais e facilitando contrações e dilatações;
 Trabalha músculos, enrijecendo e tonificando;
 Atua diretamente no centro de energia do corpo, que se encontra no ventre, distribuindo a mesma de forma equilibrada.

E blá, blá, blá, blá...

Eu, particularmente adoro uma bula de remédio e me sinto muito atraída por indicativos como esses. Mas nunca pensei em reproduzir algum tipo de discurso apoiado nesses benefícios. Até porque podem se constituir in-verdades a depender de cada corpo e contexto de prática. Afinal descritos assim de forma genérica, não passam de um efeito em “suspensão” que pode ou não acontecer no corpicho. Quem saberá? Como acontecerá? Lembro-me que sempre dizia o seguinte: “na literatura está descrito que, já no meu corpo o que percebo é...”.

Assim, ao invés de reproduzir algo fora do meu corpo, sempre busquei estar atenta ao que nele acontecia. Nada mais justo usar um discurso que se apóia no conhecimento produzido no corpo e não em meia dúzia de in-verdades fora dele. (Aqui, cabe a explicação da escolha do termo in-verdade. Ou seja, uma grafia que já indica uma ambivalência contida em toda verdade enunciada. Afinal quem hoje sustenta algo como verdade absoluta? A depender do contexto, a verdade pode ser relativizada e tornar-se distinta ao que se pretendia).

Não quero com essa postagem rastrear os mitos difundidos. Fazer uma comparação prática do que a literatura descreve. Nunca fiz antes, qual o motivo de desmontar esses fetiches agora? Mas devo confessar que com a gravidez, fiquei muito curiosa com essa associação: dança do ventre x gestação. Assim como as promessas difundidas no trabalho de parto. E cada vez que vai chegando mais pertinho do nascimento da minha filha, vou me tornando meio “São Tomé de saia”, ou melhor, “de barrigão”, quero mais ver para crer. Afinal eu sempre ouvi casos de dançarinas que tiveram seus bebês como num passe de mágica, tipo: efeito pó de pirlim pim pim, olha o bebê ai gente. Chegando ao mundo escorregando igual a quiabo! Quem nunca ouviu coisas como essa?

Em meu caso, devo esperar para crer. Ainda que não seja possível, visto que por razões médicas fiz a opção de uma cesariana (com toda minha indignação!!!!). Mas quem sabe não será o meu corpicho uma prova viva de que a dança, de fato, auxilia o trabalho de parto e Maria Elisa nasça escorregando? Será?

Mas devo partilhar um ganho que não é fetiche. E se deve muito ao trabalho de fortalecimento da musculatura da lombar (quadrado lombar) no período em que me dediquei exclusivamente à dança do ventre. Pois percebi que toda a minha preocupação com o encaixe pélvico na hora da execução dos movimentos e o uso adequado da musculatura abdominal não foi em vão. Foi um serviço ao meu bem estar postural na gestação. Afinal mal tive dor lombar e estou sustentando 15 kilos a mais (minha filha é enormeeeeeeeeeeee) de forma bem suportável.

Parece que a queixa mais recorrente das gestantes: DOR LOMBAR, não encontrou abrigo no meu corpinho. Ainda que me sinta uma pata ambulante, com todo o meu eixo deslocado para frente do corpo, percebo que meu corpo guarda uma memória adquirida com a dança. E vez ou outra se auto-corrige, se alinha, se refaz. Sinceramente, só tive desconforto na lombar na época que estava finalizando o semestre do Doutorado em Sampa, justamente pelas horas destinadas em frente do computador. Entretanto agora, nessa fase final, com a sobrecarga de peso, que tenderia agravar a lombalgia, o que sinto mais são as cotoveladas e pontapés de Maria Elisa e uma leve ardor nas costelas.

De modo que, resolvi deixar esse registro aqui e escrever que o fortalecimento da musculatura lombar e a memória do alinhamento postural, é sim um ganho na dança do ventre, ainda que seu corpo passe por transformações outras e desvie do padrão adquirido com a prática. Acreditem! Esse benefício no meu corpicho se configura uma verdade construída e não descrita apenas na literatura. Por isso meninas, vamos encaixar o quadril e dançar com o abdômen para dentro. Não se esqueçam: mais a frente, uma futura gestação vai “lhe cobrar” esse ganho!

OBS: Valeu a minha paranóia de dançar com o quadril encaixado. Lembram da minha "bronca" quando percebia um bumbum desencaixado e a barriga estufada para fora? Não foi em vão....

3 comentários:

  1. Benefícios extremamente subjetivos assim como nós, singulares até o talo!

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  2. já existem várias pesquisas comprovando efeitos físicos da dança do ventre, inclusive o aumento da força perineal.

    abraços
    Sandra Kussunoki

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  3. Ah! e para complementar. Eu tive uma aluna, q hoje é minha monitora de dança, que iniciou as aulas de dança do ventre aos 10 anos, e teve sua primeira filha aos 20 anos e não teve nenhuma dor de parto. É um caso de 10 anos de prática de dança do ventre antes do parto. E eu irei documentar isso, e outros casos mais.

    abraço fraterno

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